SANTIFICAR-SE COM O TRABALHO

Uma escada de amor
Ponto de luz: «O cristão não pode ser superficial. Plenamente mergulhado no seu trabalho diário entre os demais homens, seus iguais, atarefado, ocupado, em tensão, o cristão tem que estar ao mesmo tempo totalmente mergulhado em Deus, porque é filho de Deus» (É Cristo que passa, n. 65).
No começo do capítulo anterior, lembrávamos – com palavras de são Josemaria – que o trabalho é «meio e caminho de santidade, realidade santificável e santificadora».
Como santificar-nos a nós mesmos com o trabalho? Para entendê-lo bem, recordemos de novo que a fé nos ensina que a santidade é a plenitude do amor. A caridade (o amor) – diz são Paulo –, é o vínculo da perfeição. E afirma que ser um cristão perfeito consiste em progredir no amor (cf. Col 3,14 e Ef 5,2).
É claro que a santificação pessoal no trabalho não é automática. Pressupõe pedir humildemente a ajuda da graça de Deus, e esforçar-nos por não perdê-lo de vista. «Vivemos como se o Senhor estivesse lá longe, onde brilham as estrelas, e não consideramos que também está sempre ao nosso lado.
E está como um Pai amoroso – quer mais a cada um de nós do que todas as mães do mundo podem querer a seus filhos –, ajudando-nos, inspirando-nos, abençoando… e perdoando»[1].
No meio do trabalho, precisamos rezar mentalmente orações muito breves que mantenham o «aquecimento do amor», como pequenos gravetos que se lançam nas brasas de uma lareira. Basta dizer jaculatórias simples, como por exemplo: «Jesus, eu te amo!», ou «Ofereço-te esta hora de trabalho pela conversão do meu filho»…
Amor e virtudes
Esse clima espiritual, cultivado habitualmente, nos fará crescer na santidade. Como é que isso se notará? Eu lhe diria que, sobretudo, pelo amadurecimento das virtudes: mais fé, mais otimismo, mais compreensão, etc[2].
Completemos esta meditação fazendo-nos umas poucas perguntas práticas sobre as virtudes. Começaremos pelas virtudes «cardeais» (prudência, justiça, fortaleza e temperança); e, a seguir, examinaremos as «teologais» (fé, esperança e caridade).
Exame sobre as virtudes cardeais
- Prudência:
– Tenho o hábito de refletir e, em muitos casos, de estudar a fundo, sem precipitação, antes de agir?
– Tenho a humildade de confrontar a minha opinião com a de outros colegas, e valorizo as sugestões recebidas?
– Quando, no trabalho, já fica definida uma solução, procuro levá-la logo à prática com decisão, sem demora?
- Justiça:
– Sabendo que o trabalho de outras pessoas depende do meu, procuro ser diligente e pontual, para não prejudicá-los?
– Exijo dos subordinados horários abusivos de trabalho, que os impedem de atender decentemente aos deveres familiares?
– Sem uma estrita e urgente necessidade, protelo, nem que seja por uma hora, o pagamento de salários?
- Fortaleza:
– Enfrento as dificuldades do trabalho com coragem, sem cair no desânimo nem em reclamações inúteis?
– Venço a moleza, a lentidão e o descuido nas diversas tarefas, mesmo que ninguém me cobre nada?
– Quando devo corrigir colegas ou subordinados, faço-o com clareza e delicadeza, sem cair na ira nem na prepotência?
- Temperança:
– Venço a curiosidade desordenada na internet; evito perder o tempo com conversas inúteis ou indecentes?
– Ao terminar o trabalho, na “happy hour” ou no final de semana, abuso da bebida?
– Queixo-me com frequência do calor, do frio ou de qualquer moléstia física?
Perguntas sobre as virtudes teologais
- Fé:
– Procuro realizar bem o meu trabalho, com a consciência de estar assim cumprindo a vontade de Deus? Ofereço o trabalho a Deus? Rezo, pedindo a Deus que me mostre o que espera de mim naquela tarefa?
– Procuro na oração e na Eucaristia as forças necessárias para trabalhar como um bom cristão?
–Nas dificuldades e sofrimentos do trabalho, vejo Jesus que me pede, ajudá-lo a carregar a Cruz como um bom Cireneu?
- Esperança:
– Estou convencido de que o trabalho feito de olhos postos em Deus nunca é inútil no Senhor, como dizia são Paulo [3]?
– Peço com confiança a ajuda de Deus nos trabalhos mais difíceis?
– Lembro-me de que Cristo disse: De que adianta ganhar o mundo inteiro, se acabas perdendo a tua alma[4]?
- Caridade:
– Vejo os colegas como amigos e companheiros, não como rivais?
– Esforço-me por compreender os outros, evitando críticas negativas? Caio em mexericos?
– Evito comentários que impliquem desprezo ou ofensa de superiores e colegas?
– Rezo pelos outros e lhes faço o bem que posso no meu ambiente profissional?
[Capítulo do nosso livro Deus na vida cotidiana]
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[1] Caminho, n. 267
[2] Sobre esse tema, pode ser útil o nosso livro A conquista das virtudes, Ed. Cultor de Livros, São Paulo 2014.
[3] 1 Cor 15,58
[4] Mt 16,26
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