"COROA DE ESPINHOS"




Contemplai Jesus Cristo, o Rei dos céus e da terra, no dia do Seu triunfo!

Sim; contemplai Jesus Cristo no dia do Seu triunfo! Nada falta a Sua vitória: nem a coroa, nem o cetro, nem a púrpura!

A coroa, é verdade, é um diadema de espinhos; o cetro é um arbusto frágil; a púrpura é um farrapo avermelhado pelo Seu próprio sangue!

Mas que coroa querieis que colocassem sobre a Sua cabeça?! uma coroa de ouro? Essa fica melhor na cabeça dos príncipes da terra, que sabem dourar a apostasia da fé com o ouro da realeza. Que cetro querieis que colocassem nas Suas mãos?! um cetro de ferro?

Esse fica melhor nas mãos dos falsários da liberdade, que sabem governar a democracia com a vara de ferro do despotismo. Que púrpura querieis que Lhe dessem?! uma púrpura rica e brilhante?! Essa fica melhor no corpo dos ambiciosos da fortuna, dos idólatras da glória, dos adoradores de si próprios, dos súditos escravizados da vaidade universal!

Toda vida tem uma coroa: a de Jesus Cristo devia ter a Sua.

O poeta, o artista, o estadista, o general, não almejam senão uma coroa. Os cuidados todos da sua vida, as preocupações todas da sua inteligência, os sonhos todos da sua imaginação,

não se reduzem senão a desejar uma coroa, mas uma coroa que lhes dê a reputação, a honra, a ventura e a glória!

Jesus Cristo devia ter também uma coroa; mas uma coroa que fosse a expressão significativa da Sua vida. Ora, que coroa mais graciosa e expressiva Lhe podia ser dada que essa de espinhos?!

Que importa que ela não seja perfeitamente redonda, e que se não adapte perfeitamente a cabeça do real monarca? Que importa que ela Lhe seja brutalmente colocada no meio de

zombarias e blasfêmias?! Que importa que os espinhos Lhe penetrem a pele da fronte e saiam-Lhe pelos olhos?! Que atravessem os nervos de Seu pescoço?! Que penetrem no Seu

crânio?! Que Lhe rasguem as carnes como aguilhões?! Que importa que Ele trema da cabeça aos pés num suplício intolerável; que uma nuvem de sofrimento cubra Seus olhos, e

Seus lábios se tornem lívidos?! Era essa coroa que Ele desejava; a que Lhe convinha é a que tinha direito a Sua realeza.

A que Ele desejava porque era preciso que a cabeça não invejasse, por dizer, a sorte dos outros membros do corpo, que todos tinham pago um tributo de sangue. A cabeça devia

pagá-lo; e derramou também a sua porção de sangue, que, se não foi abundante, foi igualmente precioso, porque foi o sangue de Seu cérebro; o sangue que tinha nutrido os mais fortes, os mais belos e os mais generosos pensamentos: os da nossa Salvação; foi o sangue com que Ele tinha alimentado o mais grandioso de todos os planos humanitários:

esse que já dezenove séculos desenvolveram; que há de ter o seu Hosana imenso, e cujos triunfos parciais são bastantes para nos assegurarem o seu profetizado definitivo triunfo.

Era a que Lhe convinha porque a cabeça é a parte do corpo mais em relação com o coração. A cabeça é a sede dos músculos, nervos, veias, artérias, que se relacionam com todos os membros, de modo que a menor lesão da cabeça todos os outros membros do corpo sofrem; e era isto o que convinha ao Amor Encarnado, desejoso de em todos e em cada um dos membros de Seu corpo pagar a pena dos nossos pecados.

Convinha que este corpo, representando toda a carne da humanidade, fosse martirizado e nós pudéssemos hoje dos sofrimentos de todos e cada um dos seus membros tirar a

expiração das iniqüidades cometidas por todos e cada um dos membros do nosso corpo. Era, finalmente, a coroa, a que tinha direito a Sua realeza. Uma de ouro dar-Lhe-ia a aparência de um rei da terra; uma de louros a aparência de um simples triunfador humano; mas uma de espinhos, diz ilustre padre, anuncia-o verdadeiramente como o Rei da Humanidade, isto é, da nova humanidade que Ele veio fundar; e tão perfeitamente Lhe assenta essa coroa que os profetas extasiavam-se, vendo-a de longe. É uma coroa de espinhos; entretanto, eles chamam-na uma coroa de pedras preciosas: posuiste Domine super caput ejus coronam de lapide precioso.

É uma coroa sem arte sem beleza; entretanto, eles chamam-na uma coroa divinamente formosa: corona speciei.

É uma coroa de loucura e dor; entretanto, eles chamam-na uma coroa de sabedoria: corona sapientiae.


Mas toda a coroa exige um cetro e uma púrpura: uma coroa de espinhos exigia um cetro

irrisório e uma púrpura ridícula. Este cetro é o que Lhe convinha; esta púrpura é a que devia orná-lO.

O Rei que veio fundar o Seu Reino com os atrativos da Graça e não com a força das

armas; não pelo terror, mas pela doçura; não pela violência, mas pelo amor; não pela sabedoria do mundo, mas pela loucura da Cruz; que veio levantar tudo o que é humilde, glorificar tudo que é abjeto, devia ter como cetro o mais frágil dos vegetais.

O rei do Amor não devia também, como muitas vezes os reis da terra, ter a Sua púrpura manchada pelo sangue das revoluções e das guerras; mas avermelhada pelo Seu próprio sangue.

Era preciso que os reis, e os outros chefes das nações que as não conseguem governar realmente com seus cetros de ferro; nem se fazerem adorar apesar de suas púrpuras majestáticas ou democráticas - vissem Jesus Cristo consegui-lo com um cetro de cana e uma púrpura esfarrapada.

Os Judeus, pois, supondo confundir a Jesus Cristo, não fizeram senão dar-Lhe as insígnias que convinham à Sua realeza.

 

Trecho de:

A PAIXÃO


Padre Júlio Maria , C.SS.R.
Cruzada da Boa imprensa
1937
Nihil Obstrat Rio,
11-X-1936
P.J. Bapt. de Siqueira
Imprimatur
Rio, 13-10-1936
Mons. R. Costa Rego, V.S

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