SALMOS: ASAS PARA FUGIR DO MAL
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─ Temor e tremor me invadem… Então digo: “Ah! Se eu tivesse asas como a pomba para voar em busca de descanso… Fugiria para longe (Salmo 55,6-8).
Todos nós, em momentos difíceis da nossa vida, sentimos o desejo de fugir. Às vezes, esse desejo foi bom. Outras vezes, ruim. Vamos ver – nesta e mais duas meditações – cara e coroa desse impulso de fuga. É santo o desejo de fugir de tudo o que nos faz mal e prejudica os outros; fugir sobretudo do que nos afasta de Deus e nos leva a ofendê-lo. Pensemos, por exemplo, em três fugas que certamente são boas:
Ficou assustado, mas não se afastou da área de perigo, de maneira que, diante de mais duas interpelações recaiu, praguejando e jurando: Não conheço este homem! O galo então cantou pela seguna vez, tal como Jesus havia anunciado, e Pedro, arrasado, saiu fora da casa e chorou amargamente (Mt 27,69-75). Você não vê que essa passagem da vida de Pedro nos fala das nossas covardias, das nossas quedas, das traições com que negamos a nossa fé e o nosso amor? Por que isso? Muitas vezes, simplesmente, porque não temos a coragem de fugir. Dessa coragem falam muitos santos: «O último recurso que tenho – dizia santa Teresinha –para não ser vencida nos combates da vida é fugir… A minha última tábua de salvação é a fuga»[1]. E são Filipe Neri: «Na guerra contra a sensualidade, vencem os covardes», os que fogem da ocasião perigosa[2]. Da mesma forma, são Josemaria: «Não tenhas a covardia de ser “valente”; foge!»[3]. Quantas reincidências temos nós, por não seguir esse conselho dos santos! Difamamos e caluniamos o próximo, porque não temos coragem de sair de um grupo que só comenta intrigas e mexericos. Ou caímos porque não largamos a “balada” que sempre acaba nos levando a pecar contra a castidade e a fidelidade conjugal. Ou não damos um basta ao vício da pornografia na internet, deletando e fugindo. Ou não sabemos segurar a língua para evitar uma discussão violenta, que pode ter consequências ruins.
No capítulo 14º do Evangelho de são Lucas, há um relato de Cristo que poderíamos chamar “a parábola dos pretextos”. Fala de um homem (símbolo Deus) que deu um grande jantar e convidou a muitos… “Vinde, está tudo pronto!” Mas todos , unânimes, começaram a se desculpar. O primeiro disse: “Comprei um terreno e preciso vê-lo…; Outro lhe disse: “Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-las”… Outro ainda disse: “Casei-me, e por esta razão não posso ir”. O anfitrião, indignado, exclui-os da participação na sua mesa, símbolo da união com Deus: Eu vos digo que nenhum daqueles que haviam sido convidados provará o meu jantar” (Lc 14,16-24). Será que nós não agimos, com demasiada frequência, como esses convidados relapsos? Somos convidados por Deus para um encontro pessoal com ele na Eucaristia e na oração, ou ele nos pede melhorar o trabalho, ou colaborar com um serviço ao próximo, ou fazer um maior sacrifício em bem da família, ou levar a sério a formação cristã… , e fugimos, achamos desculpas, com máscara de razão e vestes esfarrapadas. Faltam-nos asas de coragem e responsabilidade para fugir das desculpas.
Insisto. É preciso ter sinceridade e não andar nus – como o rei do famoso conto – imaginando que estamos vestidos. Faz-nos uma falta imensa, urgente, procurar a formação doutrinal católica que não recebemos e, portanto, não possuímos. E precisamos reconhecer que, para isso, é necessário ler, aprender, estudar constantemente, uma vez que nunca estamos suficientemente formados. [1] Manuscrito C fol 14v-15r. [2] Pietro Bacci, Vita de san Filippo Neri, 2,13,18 [3] Caminho, n. 132 [4] Ibidem, n. 21 [5] Dag Tessore: Bento XVI. Questões de fé, ética e pensamento na obra e Joseph Ratzinger. Ed. Claridade, São Paulo 2005, pág. 30 |
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