Santos incorruptos: conheça a história de 10 corpos que desafiam a natureza
Você já ouviu falar a respeito dos Santos Incorruptos? Não, neste
caso o termo “incorrupto” não está relacionado com não ceder à tentação
de receber propinas divinas, nem com o não envolvimento em negociações
angelicais para a obtenção de benefícios celestes. Estamos falando aqui
dos intrigantes cadáveres de pessoas que foram beatificadas ou
canonizadas, mas que, por algum motivo misterioso, continuam preservados
— alguns deles há vários séculos.
Driblando a natureza
Beata Anna Maria Taigi, San Crisogono, Roma
Como você sabe, depois que um ser humano morre, a não ser que o corpo seja submetido a algum processo específico — seja natural ou intencional — de preservação, o cadáver passa por uma série de transformações nada agradáveis que, eventualmente, levam à sua completa decomposição.
No entanto, curiosamente, alguns santos aparentemente não passaram
por nenhum desses processos e, em vários casos, a Ciência não conseguia —
ou ainda não consegue — explicar a razão de seus corpos não terem se
degradado. Isso porque, apesar de existirem casos de pessoas que
driblaram a decomposição, quando são descobertos, os corpos desses
indivíduos geralmente se encontram mumificados, petrificados ou viraram “sabão”, por exemplo.
Sinal favorável
Santa Paula Frassinetti, Convento di Santa Dorotea, Roma
Por outro lado, no caso dos Santos Incorruptos, quando eles foram
exumados, mesmo depois de vários anos após sua morte, muitos desses
cadáveres apresentavam a mesma aparência — e às vezes até a
flexibilidade — que tinham em vida, dando a impressão de que estavam
dormindo. Além disso, seus corpos não mostravam sinais de terem sido
embalsamados, nem de terem sido enterrados em condições que favorecessem
a preservação.
Durante séculos, a Igreja Católica Romana defendeu que apenas os
indivíduos com os corações mais puros e de fé inabalável eram capazes de
resistir à decomposição, e ter o corpo incorrupto inclusive era um dos
requisitos para a beatificação e canonização. Tanto que quando surgia
algum candidato a santo no pedaço, um dos trâmites envolvia a exumação
do corpo para que membros da Igreja, médicos e cientistas pudessem
realizar a inspeção.
Além disso, nem sempre era necessário que o corpo se encontrasse
completamente incorrupto, e a presença de órgãos ou membros preservados —
como o coração, as mãos ou a língua — também era considerada. A prática
de exumar os aspirantes a santo persistiu até o século 20, e hoje em
dia, a incorruptibilidade, apesar de ser um sinal favorável, não é mais
obrigatória para a beatificação ou canonização.
Incorruptos ilustres
Atualmente, existem corpos incorruptos em exposição em igrejas de
várias partes do mundo, com a grande maioria deles espalhada pela
Europa. Alguns não resistiram à passagem do tempo — e à ação do ambiente
depois que foram exumados —, e finalmente se descompuseram.
Outros tantos foram embalsamados ou protegidos por camadas de cera,
prata e até ouro, mas ainda existem exemplares que, misteriosamente,
permanecem desafiando à passagem dos séculos. Independente de seu atual
estado de preservação — ou se hoje eles não passam de múmias ou modelos
—, todos se tornaram atrações e fascinam milhares de peregrinos e
curiosos todos os anos, e você vai poder conhecer alguns dos Santos
Incorruptos mais ilustres a seguir:
1 – Santa Bernadete de Lourdes
Santa Bernadete de Lourdes faleceu em 1879 e, em 1909, ou seja,
trinta anos após a sua morte, o corpo permanecia intacto. De acordo com
os médicos que acompanharam a primeira exumação, o cadáver se encontrava
rígido, mas incrivelmente preservado. Em 1919, ocorreu uma segunda
exumação, e as condições do corpo de Santa Bernadete permaneciam as
mesmas, e o mesmo foi observado em 1925, na terceira exumação.
Nessa terceira ocasião, o corpo de Santa Bernadete foi coberto com
uma fina camada de cera e colocado em uma urna — conforme você pode ver
na imagem acima — e, desde então, ele se encontra em exposição na Igreja
de Saint Gildard, em Nevers, na França.
2 – Santa Catarina de Bolonha
Quando Santa Catarina de Bolonha faleceu, em 1463, seu corpo foi
enterrado diretamente na cova — sem o uso de um caixão — e, até onde se
sabe, não passou por qualquer processo de embalsamamento. Após 18 dias, o
cadáver foi exumado, e permanecia em perfeito estado, sem mostrar
qualquer sinal de putrefação.
Maestro Giovanni Marcanova, o médico que examinou a santa na época,
não conseguiu encontrar uma explicação para o fato e, então, o corpo foi
vestido com um hábito limpo e colocado em uma cadeira.
Santa Catarina de Bolonha se encontra até hoje — mais de 500 anos
depois de sua morte — na Capela da Ordem das Clarissas da Igreja de
Corpus Domini em Bolonha, na Itália, e o seu corpo pode ser visto
através de uma proteção de vidro. Por certo, a coloração escurecida da
santa se deve à ação de milhares de velas que foram sendo queimadas
pelos fieis ao longo dos séculos.
3 – Santa Cecília
Não existem informações muito precisas sobre a data na qual Santa
Cecília foi martirizada, e sua história só foi registrada no século 5.
Mas acredita-se que ela foi condenada à morte por decapitação entre anos
de 176 e 180 por Turcius Almachius, o então prefeito de Roma. Dizem que
o carrasco não conseguiu separar a cabeça do corpo mesmo depois de três
golpes no pescoço de Cecília — e que ela ainda agonizou durante três
dias antes de finalmente morrer.
O corpo da mártir teria sido encontrado incorrupto e na mesma posição
em que foi abandonado entre os anos de 817 e 824, ou seja, mais de 600
anos após a sua morte. Mais tarde, em 1599, Cecília voltou a ser
exumada, e seus restos mortais permaneciam iguais. Foi então que uma
estátua reproduzindo a forma como o seu corpo foi descoberto foi
colocada sobre a tumba da santa, e ela pode ser visitada na Igreja de
Santa Cecília no Trastevere, em Roma.
4 – São Silvano
São Silvano se encontra em exposição na Igreja de São Brás em
Dubrovnik, na Croácia, e também é mais um exemplo famoso de Santo
Incorrupto. Ele foi martirizado com um ferimento no pescoço durante o
século 4, e até hoje — cerca de 1700 anos depois! — seu corpo ainda
existe. O cadáver provavelmente recebeu uma camada de cera para ser
preservado, mas, mesmo assim, é extraordinário que ele tenha resistido
por tanto tempo.
5 – Sor María de Jesús de Ágreda
María de Jesús foi uma freira espanhola que morreu em 1665, e seu
corpo se encontra até hoje em exposição no Convento de la Concepción,
localizado em Ágreda, na Espanha, onde ela foi abadessa. Como você pode
ver na imagem, uma estátua de Sor María foi criada para marcar o local
de sua sepultura, e o corpo incorrupto — sobre o qual foi aplicada uma
fina camada de cera para dar uma corzinha à freira — fica em uma urna de vidro logo abaixo.
6 – Santa Rita de Cássia
Santa Rita de Cássia, a santa das causas impossíveis, morreu em 1457,
e seu corpo incorrupto — embora se encontre bem desidratado atualmente —
pode ser visitado na Basílica de Santa Rita em Cascia, na Itália.
Segundo alguns rumores, os olhos da santa já foram flagrados se abrindo e
fechando sozinhos, e ela também parece mudar de posição no interior da
urna de vidro que guarda o seu corpo.
7 – Santa Catarina de Labouré
Santa Catarina de Labouré faleceu em 1876, e quando o seu corpo foi
exumado em 1933, ou seja, cerca de 56 anos após sua morte, ele foi
encontrado incorrupto. Dizem que seus olhos permaneciam tão azuis como
no dia em que ela morreu, e atualmente Santa Catarina de Labouré pode
ser vista em exposição em uma capela na Rue du Rac, em Paris.
8 – São João Maria Vianney
Também conhecido como o “Santo Cura D'Ars”, São João Maria Vianney
morreu aos 73 anos no início de agosto de 1859, e foi sepultado usando
uma máscara de cera. Mas quando seu corpo foi exumado em obediência aos
trâmites necessários para a sua beatificação, ele foi encontrado
incorrupto, e seu coração foi removido e colocado em um relicário.
Atualmente, São João Maria Vianney pode ser visitado no Santuário de
Ars, na França.
9 – Padre Pio
Nascido em Pietralcina, na Itália, em 1887, Padre Pio foi um
capuchinho que se tornou famoso por seus estigmatase milagres. Após uma
longa vida de devoção, ele morreu em 1968, na Igreja de Santa Maria das
Graças, localizada em San Giovanni Rotondo, na Itália.
Pio foi canonizado pelo Papa João Paulo II em 2002, e seu corpo —
supostamente — incorrupto foi exumado no início de 2008 e, desde então,
se encontra em exposição em uma urna de vidro e é visitado por milhares
de peregrinos todos os dias.
10 – São Francisco Xavier
Também conhecido como “Apóstolo do Oriente”, São Francisco Xavier
nasceu em 1506, na Espanha, e não só ajudou a fundar a Companhia de
Jesus, como foi um dos maiores evangelizadores da Igreja, atuando como
missionário no Oriente, sobretudo no Japão e na Índia. São Francisco
morreu em dezembro de 1552, na China, mas, em fevereiro de 1553, ele foi
exumado e descoberto incorrupto. Aliás, a história do corpo do santo é
uma viagem!
Em março de 1553, após ser exumado, o corpo de São Francisco foi
levado a Malacca, na Malásia, onde foi sepultado em um caixão com duas
camadas de cal para acelerar o processo de degradação e ajudar no
transporte de seus ossos. Mas, para a surpresa de todos, passados dois
meses e meio, o cadáver foi novamente exumado e, depois de a cal ser
removida, o corpo permanecia intacto.
São Francisco foi mais uma vez sepultado — com uma pitadinha de cal
—, só que desta vez diretamente na terra. Pois, em dezembro do mesmo
ano, o santo continuava inteirinho e, como não dava sinais de querer se
decompor, ele foi enviado assim mesmo até Goa, que era o local no qual
São Francisco queria que seus ossos fossem enterrados.
Finalmente, em 1637, o corpo incorrupto foi colocado em uma urna de
vidro e prata, onde permanece até hoje em exposição na Basílica do Bom
Jesus. No entanto, depois de tantas idas e vindas — e tanto tempo! — São
Francisco Xavier se encontra um tanto quanto deteriorado.
*Publicado originalmente em 07/07/2015.
https://www.megacurioso.com.br/religiao/71844-santos-incorruptos-conheca-a-historia-de-10-corpos-que-desafiam-a-natureza.htm
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