O NÚMERO DOS ANJOS


Santo Atanásio na questão sexta, cita a opinião de alguns, que tiveram para si, que os homens eram iguais em número aos Anjos, movidos por aquelas palavras do Deuteronômio, como traduziram os Setenta Intérpretes, registrou o número dos povos, conforme ao número dos Anjos. Outros há, que tem para si, que os homens excedem em número aos Anjos e movem-se por este argumento. Porque dos homens tantos se hão de escolher para a glória, quantos são os Anjos que caíram da glória e consta no Apocalipse na figura do dragão (que trouxe consigo a 3ª parte das estrelas), que a 3ª parte dos Anjos caiu, e conforme a isto parece que entende São Bernardo sobre os Cantares, aquelas palavras do Salmo: “Julgará os homens e com eles proverá os lugares vagos no céu”. Donde deduz-se, que não se salvando nem a décima parte, contando todos os infiéis é muito maior o número de todos os homens que o de todos os Anjos.
Porém, nenhuma destas opiniões tem fundamento, porque no Deuteronômio, considerando bem o que Moisés vai dizendo, não se trata do número de Anjos; somente mostra o particular cuidado que Deus teve de seu povo na divisão geral das terras que Deus fez a várias nações. Porque quando, ou conforme aos Hebreus, quando repartia as terras do mundo pelas nações, logo então marcou a terra de Canaã a sete nações, não tanto por a possuírem, mas por a cultivarem e depois de cultivada a entregar aos filhos de Israel, quando saíssem do Egito. Quer dizer que a estas sete nações assinalou os termos da que por eles repartiu, como se dissesse, que não tinha os olhos naqueles a quem as dava, se não no seu povo de Israel, cujos colonos eram os povos e nas demarcações olhavam para o que convinha aos israelitas para os agasalhar no que mostrava grande amor a seu povo, dando-lhe as terras cultivadas e a todas as outras nações, incultas e bravas. E segue-se logo, como se dissera as outras nações, deu terras em herança, mas para si tomou este povo por herança própria. Este é o sentido literal que os expositores comumente dão ao lugar do Deuteronômio.
O Apocalipse não fala da queda dos Anjos, se não dos fiéis, no tempo do Anticristo. Por onde não há fundamento para duvidar, ainda que ponhamos os olhos na grande máquina do mundo e na multidão de criaturas que nele há, se haverá tantos Anjos em número, que nasceram e nascerão? Porque é tão copioso o número dos Anjos (como afirma São Dionísio Areopagita) que excede e é muito maior que o número de todas as coisas corporais e materiais. E São Tomás e outros Doutores escolásticos, da proporção que há entre os corpos superiores e da que há entre os inferiores, agrupam a multidão dos Anjos, por que se vemos que tão grande multidão de criaturas corporais é necessária para responder e encher à distância que há entre a mais vil criatura e entre o homem, a mais nobre do todas as corporais, quão grande número será necessário para responder a distância que há entre o Anjo e mesmo a Deus? Porque como Deus, Nosso Senhor nesta formosíssima e admirável máquina do mundo, pretende principalmente à perfeição dele, se não é limitado seu poder, se não infinito e imenso (criou as coisas em tanto maior número e abundância, quanto elas são mais perfeitas em si). Daí vemos, que todas as coisas baixas e corruptíveis que estão debaixo da Lua, são quase um ponto em comparação dos céus, que são corpos mais perfeitos e nobres. E nos mesmos céus o mais alto e superior excede muito ao inferior e o supremo a todos os demais.
Por esta razão algumas estrelas do firmamento que nos parecem aos olhos tão pequenas, são muito maiores que toda a terra composta de todas as coisas inferiores. Esta mesma proporção há nas coisas espirituais e naqueles supremos espíritos a respeito das coisas corporais as quais excede não em quantidade, se não em número, pois é certo que a alteza no lugar dos corpos responde à nobreza da essência nos espíritos e ao excesso da quantidade, responde a multiplicação do número. E vê-se claramente ser assim, porque se cada um dos homens desde nosso primeiro pai Adão, até o derradeiro, que haverá no mundo, tem seu Anjo da guarda eleito para sua defesa, sem exceção de bom ou de mal, nem de fiel ou infiel, nem de bárbaro Etíope, ou nobre político ( pois todos enquanto homens participam deste beneficio necessariamente havemos de confessar, que os Anjos do derradeiro coro – do qual se provê a guarda dos homens – são mais que todos os homens que houve e haverá até o fim do mundo.
Então, qual será o número dos outros coros se for assim como temos provado, que tanto maior é o número deles, quanto sua ordem é mais alta e sua perfeição mais elevada? Isto se conclui da escritura sagrada, a qual falando da multidão dos Anjos, diz: “milhares de milhares serviam o Senhor e dez vezes cem mil o assistiam”. Pelo qual entendem os Padres e Doutores, uma multidão de espíritos celestiais em certo modo infinita. Para confirmação do mesmo, trazem alguns autores uma revelação, que com o favor da Virgem Nossa Senhora, se fez a Santa Brígida, a qual com muita segurança afirma, que os Anjos excedem em número aos homens em dez partes por estas palavras: “Se se compararem todos os homens que nasceram de Adão até ao derradeiro que há de nascer no fim do mundo, achar-se-á que, a cada homem respondem mais de dez Anjos”. E a autoridade desta Santa é de muita estima. Porque o Papa Bonifácio IX na Bula de sua Canonização, acredita e autoriza muito o espirito de profecia desta Santa. Nesta conformidade, dizem alguns Doutores, que a cada Anjo respondem dez Arcanjos e a cada Arcanjo dez principados; e assim como os coros e hierarquias vão subindo, se vai multiplicando o número dos Anjos superiores.
Ao que temos dito se pode acrescentar o que tem São Hilário, São Cirilo e outros, aos quais afirmam que os Anjos excedem aos homens em noventa e nove partes. Pela ovelha da parábola, diz o Santo, se há de entender o primeiro homem e por este todos os mais homens, mas no pecado de um só Adão se perdeu todo o gênero humano. De onde se compreende, que pelas noventa e nove ovelhas que não se perderam se há de entender a multidão dos Anjos, que no céu tem o cuidado e alegria pelo bem e salvação dos homens.
O mesmo diz Santo Atanásio conforme alegado acima, que muitos tiveram para si que a proporção que tem os Anjos para com os homens em número é a mesma que tem noventa e nove para um; ou nove para um. E resume isto das parábolas, a das noventa e nove ovelhas, que o pastor deixou no deserto guardadas para buscar sua perdida e das nove dracmas seguras e uma perdida, porque na ovelha e dracma perdida se representam os homens e nas mais os Anjos. De onde veio Santo Ambrósio sobre o capitulo 15 de São Lucas, a dizer: o rico e grosso pastor de quem nós somos a centésima parte das ovelhas, tem inumeráveis rebanhos de Anjos e de Arcanjos, Dominações, Potestades e de outros semelhantes que deixou nos montes. De onde vem a dizer alguns Doutores, que mais fácil é contar as estrelas do céu e as gotas do mar e as folhas das árvores e as ervas da terra, que compreender a multidão dos Anjos a qual ainda que para Deus seja finita e contada, com tudo em nosso ponto de vista parece infinita.
E São Bernardino de Siena falando do amor misericordioso de Deus e dos meios que a ele nos hão de levar, diz assim: “A segunda coisa que havemos de contemplar, diz São Bernardino, é a multidão dos Anjos”, porque diz São Dionísio no livro da hierarquia que só os Anjos que estão no paraíso são mais do que as estrelas, as areias do mar e da terra, que as folhas e ervas e mais que todas as coisas criadas. Por esta causa disse bem Jó falando de Deus: “Por ventura os soldados do Senhor podem se contar”? O que nos declara a glória e soberana majestade do Senhor que nos criou e se serve deles, como de seus criados e soldados. Porque é grande honra de um rei ter muitos ministros nobres e poderosos e família luzida de criados que o acompanham e sirvam que por isso disse o Espirito Santo: A dignidade e majestade do Rei se conhece na multidão de seus ministros e ter poucos vassalos e afronta do príncipe. E é coisa notável que com os Anjos serem tantos, São Tomás tem para si – posto que muitos têm o contrário – que nenhum há entre eles que não seja de diferente espécie de todos e de cada um dos outros.
E assim como seria formosíssima coisa e maravilhosa se em um campo ou prado povoado de infinitas flores, não houvesse entre elas, duas que fossem da mesma espécie, se não que cada flor fosse da sua e diferente de todas as outras nas cores, na figura, na forma, porque umas teriam as cores singelas, já brancas, já vermelhas, já amarelas, já roxas, já verdes, outras as teriam todas misturadas umas com as outras, em tal proporção que a mistura e composição de cada uma acrescenta-se notável graça a todas semeando à natureza e matizando com diferentes variedades e proporção a cada uma para em todas resultar mais perfeição, mais arte e mais graça natural. (Estando na opinião de São Tomás) naquele copiosíssimo e abundantíssimo campo do céu – a que com razão podemos chamar Jardim de Flores em que há inumeráveis Anjos que como formosíssimas flores o aformoseiam e vestem com singular graça e majestade. Não há dois deles que tenham a mesma espécie, pois em cada um achareis diferentes perfeições, diferente lustre e diferente ser, comunicado do autor de todo o bem e pego infinito de perfeições.
(Retirado do Almanaque Tradição Católica)

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