A decisão que obriga a outras escolhas

PE. ÉLCIO

Todo mundo conhece o ditado “mentira atrai mentira”. Quando contamos uma mentirinha, devemos contar outras maiores para que ela se sustente e assim vamos nos complicando cada vez mais.
Há na Bíblia uma história que mostra bem como essa realidade funciona. É a história do Rei Davi, que chegou a ser chamado de “homem segundo o coração de Deus” (1Sm 13,14), mas que em determinado momento da história cometeu um grande erro.  E esse grande erro começou com uma pequena tentação.
Depois de ter sido escolhido por Deus para liderar seu povo, Davi faz diversas escolhas que o levaram a ser aclamado rei de Israel. No entanto, depois de estabelecido no poder, ele começa a tomar outras decisões. Decide não acompanhar seus homens na guerra com os amalecitas (2Sm 11,1) e, estando ocioso, decide olhar uma mulher que se banhava num dos banhos públicos do palácio. Do olhar veio o desejo pela mulher, do desejo o ato e do ato as conseqüências dessa decisão: a gravidez da mulher que já era esposa de Urias. Para resolver esse problema, Davi manda vir da guerra o esposo traído, na esperança de que ao dormir com sua mulher, ele pense que o filho seja dele. Puro engano, o fiel soldado recusa-se a dormir em sua cama enquanto seus colegas sofrem no relento. Nem bêbado ele consente essa opção. A solução de Davi o leva a matar Urias. O que começou com um simples olhar termina na morte de um fiel soldado. A história completa está em 2Sm 11.
Essa história nos mostra que quando tomamos uma decisão, esta vem acompanhada de muitas outras escolhas que sustentam a decisão primeira. Essa primeira decisão pode ser chamada de decisão fundamental. Sobre ela devemos discernir bastante e escolher aquilo que podemos cumprir. Nunca devemos esquecer as escolhas adicionais, pois são elas que sustentarão nossa decisão primeira. Caso escolhamos uma determinada missão, como fruto do discernimento da vontade de Deus, outras escolhas serão exigidas, como a fidelidade, a coerência, etc. Caso tenhamos uma atitude contrária à vontade de Deus, também vamos ter que sustentá-la com muitas outras decisões contrárias.
Ao aceitar ser rei, Davi deveria estar com seus soldados. Ao optar por ficar no palácio, não deveria estar ocioso e nem olhar para mulheres alheias. Para cada decisão errada de Davi, uma mais errada ainda se impôs. O verdadeiro herói nessa história foi Urias, que ao optar por ir à guerra sente-se obrigado também a ser solidário com os outros soldados. A decisão acertada de Urias foi sustentada por outras decisões, como a austeridade, a abstinência de prazer enquanto os colegas sofrem, entre outras. Ele sim fez uma opção fundamental para o bem e essa opção orientou as outras decisões cotidianas para o bem.
Que o mau exemplo de Davi, nesse episódio, nos ensine a sermos fieis e conseqüentes em nossas decisões, para que não tenhamos que ficar atraindo mentiras para sustentar uma decisão mal discernida.
Pe. Élcio de Toledo, SJ
elciotoledo@hotmail.com

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