Sim, existe um inferno
Certa vez um amigo que se diz católico me disse: "eu não acredito em inferno." O
senhor pode dar uma resposta a esta afirmação?
A Escritura sagrada claramente atesta a um lugar de condenação
eterna chamado inferno ou às vezes referido a como Gehenna. Os exemplos
são os seguintes: Jesus disse que o homem que desprezar seu irmão "incorrerá os
fogos da Gehenna" (Mt 5,22). Nosso Senhor advertiu, "não temais os que
matam o corpo mas não podem matar a alma. Antes, temei quem pode destruir tanto
corpo como alma na Gehenna" (Mt 10,28). Jesus disse, "Se tua mão te faz
cair, corta-a. Melhor você entrar na vida com uma só mãos que manter ambas as
mãos e ir para a Gehenna com seu fogo inextinguível" (Mc 9,43). Usando
a parábola do joio e do trigo para descrever o julgamento final, Jesus disse,
"os anjos lançarão [os malfeitores] na fornalha inflamável onde prantearão e
moerão os seus dentes (Mt 13,42). Semelhantemente, quando Jesus falou do
julgamento final onde a ovelha será separada dos lobos, Ele dirá ao mau,
"afastai-vos de mim, malditos, para o fogo perpétuo preparado para o demônio e
seus anjos (Mt 25,41). Finalmente, no Livro da Revelação, cada pessoa é julgada
individualmente e os malfeitores são lançados em uma "fosso de fogo, a segunda
morte" (20,13-14).
Apenas para clarificação, Gehenna era um vale ao sul
de Jerusalém que era utilizado para sacrifícios pagãos de crianças pelo fogo. O
profeta Jeremias amaldiçoou o lugar e predisse que seriam um lugar de morte e
corrupção. Na literatura rabínica tardia, o termo identificava o lugar de
castigo eterno com torturas e fogo inextinguível para os maus.
Dessa forma, a Igreja consistentemente ensinou que de fato o
inferno existe. Que as almas que morrem num estado de pecado mortal
imediatamente vão para o castigo eterno no inferno. O castigo do inferno é
principalmente a separação eterna de Deus. Lá se sofre o sentido de perda?a
perda do amor de Deus, a perda da vida com Deus, e a perda da felicidade. Amor
verdadeiro, vida, e felicidade são relacionadas a Deus, e cada pessoa as deseja.
Entretanto, só Nele o homem achará sua realização (cf. CCE 1035).
A pessoa condenada também sofre dor. As descrições dadas sobre
esse "fogo" pela Constituição Apostólica Benedictus Deus (1336) do Papa
Benedito XII disseram que as almas "sofreriam a dor do inferno," e o Concílio de
Florença (1439) decretou que as almas "seriam punidas com castigos
diferentes".
Alguns santos tiveram visões de inferno. Irmã Faustina
descreveu o inferno como segue: "Hoje fui dirigida por um Anjo aos abismos
do inferno. É um lugar de grande tortura; como terrivelmente grande e extenso é!
As espécies de torturas eu vi: A primeira tortura que constitui o inferno é a
perda de Deus; a segunda é o remorso perpétuo da consciência; a terceira é que
aquela condição nunca mudará; a quarta é o fogo que penetrará na alma sem
destruí-la?um sofrimento terrível, como é um fogo puramente espiritual, aceso
pela ira de Deus; a quinta tortura é a escuridão ininterrupta e um terrível e
sufocante odor. Apesar da escuridão, os demônios e as almas dos condenados vêem
todos os males, os próprios e dos outros; a sexta tortura é a companhia
constante de Satanás; a tortura sétima é o desespero horrível, aversão de Deus,
palavras vis, maldições e blasfêmias. Estas são as torturas sofridas por todos
os condenados, mas isto não é o fim dos sofrimentos. Há torturas especiais dos
sentidos. Cada alma sofre sofrimentos indescritíveis, terríveis, relacionados à
maneira com que se pecou. Há cavernas e fossas de tortura onde uma forma de
agonia difere da outra. Teria morrido na mesma visão destas torturas se a
onipotência de Deus não tivesse me apoiado. Escrevo isto no comando de Deus, de
modo que nenhuma alma pode achar uma desculpa por dizer não há inferno, nem que
ninguém jamais esteve lá e por isso não se pode dizer como ele é".
Devemos lembrar que Deus não predestina ninguém ao inferno nem
deseja que alguém seja condenado. Deus nos confere a graça atual que ilumina o
intelecto e fortalece a vontade de modo que podemos fazer o bem e desviar do
mal. Entretanto, uma pessoa, com o consentimento do seu intelecto, pode escolher
praticar o mal e com essa escolha, cometer pecado mortal, e assim rejeitar Deus.
Se uma pessoa não se arrepende do pecado mortal, não tem qualquer remorso e
persiste neste estado, então esta rejeição de Deus continuará para a eternidade.
Em resumo: as pessoas se condenam ao inferno.
O papa João Paulo II, em Cruzando o Limiar da
Esperança (pp. 185-6) endereçou a pergunta, "Pode Deus, que amou tanto
o homem, permitir que o homem que O rejeita seja condenado a tormento
eterno?" Citando a Escritura Sagrada, o Santo Padre na sua resposta repete
o ensino inequívoco de nosso Senhor. Ele também nos lembra que a Igreja nunca
condenou uma pessoa particular ao inferno, nem mesmo Judas; antes, a Igreja
deixa todo julgamento nas mãos de Deus. Entretanto, o Papa, por uma série de
perguntas, afirma que o Deus de Amor é também o Deus de Justiça, que nos faz
responsáveis por nossos pecados e assim nos pune.
Devemos orar pela graça de resistir à tentação e seguir o
caminho do Senhor e ao mesmo tempo procurando o perdão para qualquer queda que
venhamos a cometer. Falando sobre a jornada da Igreja Peregrina, o Vaticano II
na Constituição Dogmática sobre a Igreja (n. 48) escreve, "desde que
não se sabe nem o dia nem a hora, devemos seguir o conselho do Senhor e vigiar
constantemente de modo que, quando o único curso de nossa vida terrena for
completada, possamos merecer entrar com Ele na festa das bodas e sermos
numerados entre os abençoados e não como os serventes maus e preguiçosos, sermos
enviados ao fogo eterno, na escuridão exterior onde 'haverá prantos e ranger de
dentes.'" Por esta mesma razão, nós oramos na primeira Oração Eucarística da
Missa, "Pai aceita esta oferenda de toda sua família. Conceda-nos sua paz nesta
vida, poupa-nos da condenação final, e conta-nos entre os escolhidos".
Traduzido para o Veritatis Splendor por Rondinelly Ribeiro
Rosa.
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