Textos de meditação para a Quaresma e a Semana Santa


Transcorrendo a Semana Santa logo no início de abril, pareceu-nos mais apropriado apresentar na presente edição o tema da Quaresma e da Sagrada Paixão do Redentor da humanidade.
Para isso, escolhemos dois textos particularmente oportunos, de autoria do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Desse modo, prestamos ao saudoso inspirador e sustentáculo de Catolicismo mais uma merecida homenagem.
O primeiro texto, sem revisão do autor, constitui excertos de uma exposição a sócios e cooperadores da TFP durante a Semana Santa de março de 1988. No segundo, apresentamos os tópicos essenciais de um artigo publicado no semanário "Legionário", em 30 de março de 1947.
Agonia no Horto e previsão do sofrimento
Diz o Evangelho que a natureza humana de Nosso Senhor Jesus Cristo "entrou em agonia" (Lc 22,43).
O que é compreensível, porque a natureza humana de Jesus, sendo perfeitíssima, era dotada, do modo mais perfeito, de todos os instintos do homem. E, portanto, possuía do modo mais perfeito também o instinto de conservação. Ele sentia o instinto de conservação gravemente contundido pela ameaça que se aproximava.
Então, o que Ele fez? Para se preparar, Nosso Senhor considerou aquilo tudo de frente. Para que não tivesse, além do mais, o peso da surpresa em sua natureza humana. E com o peso da surpresa, os sustos, os medos etc. Ele tomaria a dor inteira e a aceitaria. Por assim dizer, colocaria sua alma na altura da dor que vinha, como um guerreiro que, antes de entrar no campo de batalha, mede todos os riscos, resolve enfrentá-los e entra no campo de batalha com isso no interior de sua alma.
Tal atitude é propriamente a do varão católico que se prepara para o sofrimento. Evita fechar os olhos para o que vem, evita ser colhido pela surpresa. Tanto quanto possível, prevê, e prevê coisas desagradáveis. Eis aí o esquema da preparação perfeita, e que encerra o desfecho da preparação.
Previsão: forma de coragem
Muitas pessoas não têm coragem de prever e se deixam afundar nos acontecimentos, que as vão tragando na medida em que se apresentam.
Muitas vezes, a pessoa diz: "Eu não quero prever, porque eu não tenho coragem. Se eu vir, eu fujo".
Nosso Redentor chegou ao ponto de não agüentar o que estava diante dele. Mas não agüentar, em que termos? Ele pediu que não se realizasse aquilo, mas se Deus-Pai o desejasse, então se cumprisse sua vontade. E à medida que foi pensando nos acontecimentos futuros, a agonia foi tomando conta da sua alma. E o sofrimento foi tal que chegou a suar sangue!
Segundo a Medicina, quando a pessoa está sujeita a pressões terríveis, certos vasos capilares se rompem e o sangue perpassa pela pele. É propriamente um suor misturado com sangue. E no auge da dor, o Redentor praticou um ato de humildade ao exclamar: "Pai, se for possível, afastai de mim este cálice". Como quem diz: "Vós vedes que Eu estou no ponto de não agüentar... mas faça-se a Vossa vontade!"
Assim, o sofrimento do Homem-Deus foi como uma espécie de turbilhão. E durante esse período já começaram as dores morais. Porquanto os Apóstolos, sem levar em consideração a tristeza que O tomava, foram dormir... E Aquele que era o Rei deles, o Divino Salvador deles, que sofresse como quisesse, eles não se incomodavam.
Auge do tormento: abandono dos Apóstolos
Duas vezes o Divino Mestre foi pedir socorro a seus Apóstolos. E nas duas vezes, eles acordaram, olharam... O Messias dirigiu-lhes palavras tocantes, e não se importaram. E Nosso Senhor sentiu-se abandonado até por seus íntimos.
Era uma dor medonha! Os mais próximos que Ele ia remir, ia salvar, aqueles!... O Chefe da Igreja, São Pedro, estava ali deitado, não o atendeu! São Pedro, a quem Ele disse: "Pedro, tu és pedra, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja"! Como é isso? E São João, o discípulo bem-amado, que durante a última Ceia tinha repousado a cabeça sobre seu peito...
O padecimento então atingiu seu ápice. Começou Ele a sentir, com o abandono dos Apóstolos, algo do tormento da agonia.
Consolação divina
Apareceu nesse momento um Anjo do Céu e deu-Lhe de beber um cálice, que Lhe trouxe consolação. O que quer dizer consolação? Significa força. É o sentido da palavra. Ficou, pois, consolado e pronto para a luta.
E foi o que sucedeu. Desde o momento em que se aproximaram os algozes para prendê-Lo, até o "consumatum est", jamais teve um desfalecimento!
A verdadeira piedade
A verdadeira piedade deve impregnar toda a alma humana e, portanto, também deve despertar e estimular a emoção. Mas a piedade não é só emoção, e nem mesmo é principalmente emoção.
A piedade brota da inteligência, seriamente formada por um estudo catequético cuidadoso, por um conhecimento exato de nossa Fé, e, portanto, das verdades que devem reger nossa vida interior. A piedade reside ainda na vontade. Devemos querer seriamente o bem que conhecemos. Não nos basta, por exemplo, saber que Deus é perfeito. Precisamos amar a perfeição de Deus e, portanto, devemos desejar para nós algo dessa perfeição: é o anseio para a santidade. "Desejar" não significa apenas sentir veleidades vagas e estéreis. Só queremos seriamente algo, quando estamos dispostos a todos os sacrifícios para conseguir o que queremos. Assim, só queremos seriamente nossa santificação e o amor de Deus, quando estamos dispostos a todos os sacrifícios para alcançar esta meta suprema. Sem esta disposição, todo o "querer" não é senão ilusão e mentira. Podemos ter a maior ternura na contemplação das verdades e mistérios da Religião, mas se daí não tirarmos resoluções sérias, eficazes, de nada valerá nossa piedade.
É o que se deve dizer especialmente nos dias da Paixão de Nosso Senhor. Não nos adianta apenas o acompanhar com ternura os vários episódios da Paixão: isto seria excelente, não porém suficiente. Devemos dar a Nosso Senhor, nestes dias, provas sinceras de nossa devoção e amor.
Estas provas, nós as damos pelo propósito de emendar nossa vida, e de lutar com todas as forças pela Santa Igreja Católica.
A Igreja é o Corpo Místico de Cristo. Quando Nosso Senhor interpelou São Paulo, no caminho de Damasco, perguntou-lhe: "Saulo, Saulo, por que me persegues?". Saulo perseguia a Igreja, e Nosso Senhor lhe disse que era a Ele mesmo que Saulo perseguia.
Se perseguir a Igreja é perseguir a Jesus Cristo, e se hoje também a Igreja é perseguida, hoje Cristo é perseguido. A Paixão de Cristo se repete de algum modo também em nossos dias.
Como se persegue a Igreja? Atentando contra os seus direitos ou trabalhando para dEla afastar as almas. Todo ato pelo qual se afasta da Igreja uma alma, é um ato de perseguição a Cristo. Toda alma é, na Igreja, um membro vivo. Arrancar uma alma à Igreja é arrancar um membro ao Corpo Místico de Cristo. Arrancar uma alma à Igreja é fazer a Nosso Senhor, em certo sentido, o mesmo que a nós nos fariam se nos arrancassem os olhos.
Se queremos, pois, condoer-nos com a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, meditemos sobre o que Ele sofreu na mão dos judeus, mas não nos esqueçamos de tudo quanto ainda hoje se faz para ferir o Divino Coração.
E isto tanto mais quanto Nosso Senhor, durante sua Paixão, previu tudo quanto se passaria depois. Previu, pois, todos os pecados de todos os tempos, e também os pecados de nossos dias. Ele previu os nossos pecados, e por eles sofreu antecipadamente. Estivemos presentes no Horto como algozes, e como algozes seguimos passo a passo a Paixão até o alto do Gólgota. Arrependamo-nos, pois, e choremos.
A Igreja está diante de nós como Cristo ante a Verônica
A Igreja, sofredora, perseguida, vilipendiada, aí está a nossos olhos indiferentes ou cruéis. Ela está diante de nós como Cristo diante de Verônica. Condoamo-nos com os padecimentos dEla. Com nosso carinho, consolemos a Santa Igreja de tudo quanto ela sofre. Podemos estar certos de que, com isto, estaremos dando ao próprio Cristo uma consolação idêntica à que lhe deu Verônica.
http://catolicismo.com.br/materia/materia.cfm?IDmat=D8DFA24A-3048-560B-1C61E04069C6EDF4&mes=Mar%C3%A7o1996

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