«A casa encheu-se com o perfume do bálsamo»

«O aroma dos teus perfumes é requintado», lê-se no Cântico dos
Cânticos . Distingo ali várias espécies [...]: o pefume da contrição, o
da piedade e o da compaixão. [...] Há, pois, um primeiro perfume que a
alma compõe para seu próprio uso quando, apanhada numa rede de numerosas
faltas, começa a refletir sobre o seu passado. Reune então, no cadinho
da sua consciência, para os juntar e esmagar, os múltiplos pecados que
cometeu; e, na fornalha do seu amor
ardente, fá-los cozer no fogo da penitência e da dor. [...] É com este
perfume que a alma pecadora deve cobrir os inícios da sua conversão e
ungir as chagas recentes; porque o primeiro sacrifício que se há de
oferecer a Deus é o de um coração arrependido. Enquanto a alma, pobre e
miserável, não possuir com que compor um unguento mais precioso, não
deve neglicenciar preparar aquele, ainda que o faça com vis
matérias-primas. Pois Deus não desprezará um coração que se humilha na
contrição [Sl 50,19]. [...]
Aliás, esse perfume invisível e espiritual não poderá paracer-nos de
fraca qualidade, se compreendermos que ele é simbolizado pelo pefume
que, segundo o Evangelho, a pecadora deitou sobre os pés do Senhor. Com
efeito, lemos que «a casa encheu-se com o perfume do bálsamo». [...]
Lembremo-nos do perfume que invade toda a Igreja no momento da conversão
de um único pecador; todo o penitente que se arrepende torna-se para a
multidão como que um odor de vida que a desperta. O aroma da penitência
sobe até às moradas celestes, uma vez que, segundo a Escritura, o
arrependimento de um só pecador é uma grande alegria para os anjos de
Deus [Lc 15,10].
São Bernardo
Comentários
Postar um comentário