"Mortificação"



«Se não te mortificas, nunca serás alma de oração» (Caminho, n. 172).
Por quê? Porque dentro de nós há, como diz São Paulo, duas forças opostas em contínua luta: o “homem velho” e o “homem novo” (ver Ef 4,22-24). O homem velho tem um nome: “egoísmo”, fruto do pecado original e dos pecados pessoais. O homem novo também tem um nome: “amor”, fruto da presença do Espírito Santo na alma e da nossa correspondência.
Os dois “homens” são como brigões que puxam de uma corda, cada um por um extremo, em sentido contrário. Se o “velho” levar a melhor, arrasta-nos para longe de Cristo (pois só a graça e o amor nos aproximam dEle). Mas toda vez que o “novo” vence (”mortificando” o egoísmo), aproxima-nos de Deus, da amizade com Cristo, da união com Ele. Que acha? Não é justamente isso o que procuramos com a oração? Sim, é a intimidade com Deus, a sintonia com Deus, a amizade que tudo compartilha com o Amigo (ver Jo 15,15).
Por isso, entende-se bem que Jesus diga: «Se alguém quiser vir comigo, negue-se a si mesmo [negue o "eu" egoísta], tome a sua cruz e siga-me» (Mt 16,24).
A mortificação voluntária é a negação dos puxões do eu egoísta: é um sacrifício que consiste em dizer não aos desejos e inclinações egoístas, para poder dizer sim ao que pede o amor. Por isso, a mortificação bem entendida deveria chamar-se , melhor, “vivificação”. Ela é fonte de vida e não de morte.
Agora perguntemo-nos: Que tipos de mortificação são necessários para podermos ser “almas de oração”? Penso que podem resumir-se em cinco:
1º) A mortificação externa, a da ordem e pontualidade na oração. Já vimos, em outras meditações, como é importante ter uma hora e um lugar fixos para a oração (meditação, terço, etc.), e observá-los, mesmo que não tenhamos vontade nem facilidade (só deixá-los se há “impossibilidade”).
«É preciso vencer - diz São Josemaria - a poltronaria, o falso critério de que a oração pode esperar. Não adiemos nunca essa fonte de graças para amanhã. O tempo oportuno é agora».
2º) A mortificação física da gula. Não faça essa cara de estranheza. Sim, gula e oração têm muito a ver, como ensinavam os cristãos dos primeiros séculos. Comer demais, além de fazer mal ao corpo, enfraquece a alma e a torna “pesada”. No século V, o abade João Cassiano, grande mestre da oração, escrevia: «O primeiro combate que devemos empreender é contra o espírito de gula. A abstinência corporal não tem outra razão de ser senão conduzir-nos à pureza do coração».
Doze séculos mais tarde, o famoso padre Manuel Bernardes perguntava: «Sendo certo que o primeiro passo da vida espiritual é sair-se da cozinha e despensa, que progressos espirituais suporemos ter feito quem tiver o coração na cozinha e despensa?».
3º) A mortificação da imaginação. Já nos referimos a ela ao tratar do recolhimento interior. Não podemos ter a imaginação à solta, ao longo do dia. Dizem que Santa Teresa de Ávila a chamava a “louca da casa”, o que é uma grande verdade; quem não se acostuma a mortificar devaneios à toa, filminhos mentais sem substância, depois, quando chega a hora da oração, sofre o bombardeio das distrações: a imaginação solta as suas “bombas de fumaça” e não nos deixa fixar a mente e o coração em Deus.
4º) A mortificação que purifica. São Josemaria compara a nossa alma a um «pássaro que ainda tem as asas empastadas de lama», e comenta que são necessários «muito calor do Céu [graça de Deus] e esforços pessoais pequenos e constantes [mortificações], para arrancar esse barro pegajoso das asas» (Caminho, n.991).
Purificam-nos as mortificações que vão vencendo, pouco a pouco, a lama dos defeitos: a sensualidade, a impaciência, a preguiça, a vontade de ficar mais tempo na cama, a desordem, o mau humor, a passividade perante os problemas dos outros… «Urge que os cristãos - diz o mesmo santo - se convençam desta realidade: não caminhamos junto do Senhor quando não sabemos privar-nos espontaneamente de tantas coisas que o capricho, a vaidade, a vida cômoda, o interesse nos reclamam».
E também as mortificações (e os sofrimentos), que oferecemos a Deus como penitência, para purificar e reparar os nossos pecados: mais um tempo de oração de joelhos, um pequeno jejum, a visita a uma igreja em dia de semana…; e as dores e doenças físicas, os padecimentos morais, as frustrações que nos fazem sofrer, etc. “Tudo isso para ti, Senhor, unido à tua Cruz, para purificar a minha alma pecadora”.
5) Finalmente, as mortificações necessárias para cumprir a Vontade de Deus. A própria oração nos faz ver, quase sempre, o que Deus quer de nós (voltaremos a esse assunto em outra meditação). Para dizer-lhe “sim”, teremos que dizer “não” a algum gosto, plano ou prazer pessoal. Por exemplo, para não deixar de ir à Missa aos domingos. Ou para participar de um apostolado ou de um trabalho social em favor dos necessitados. Ou para ficar em casa à disposição dos que precisam do nosso serviço. São coisas que Deus nos pede. As mortificações que elas exigem são as pontes por onde passa o amor. Do outro lado da ponte da mortificação, feita com amor a Deus e ao próximo, estão os braços e o coração aberto de Cristo Jesus. E, com ele, está a alegria.
By Pe. Faus on October 25, 2009


Comentários

  1. Mortificação

    Viver pode ser também
    Uma espécie de morte...

    Se encontrar pelo caminho
    Coisas que foram minhas,
    Não me traga de volta,
    Não me dê notícias...

    Estou me deixando pelo caminho,
    Abandonando os fardos e o peso morto
    Pela vereda da simplificação da vida...

    Tenho aprendido algumas coisas,
    A melhor delas é esse tipo de morte,
    Temos que morrer em nós mesmos.
    Fora a alma, tudo é efêmero.

    Jonas Corrêa Martins
    J.Nunez

    ResponderExcluir
  2. Mortificação

    Viver pode ser também
    Uma espécie de morte...

    Se encontrar pelo caminho
    Coisas que foram minhas,
    Não me traga de volta,
    Não me dê notícias...

    Estou me deixando pelo caminho,
    Abandonando os fardos e o peso morto
    Pela vereda da simplificação da vida...

    Tenho aprendido algumas coisas,
    A melhor delas é esse tipo de morte,
    Temos que morrer em nós mesmos.
    Fora a alma, tudo é efêmero.

    Jonas Corrêa Martins
    J.Nunez

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