"NÃO PERMITA DEUS QUE CRISTÃO ALGUM REZE DESSE MODO"



Consideremos nossa alma como um castelo feito de um só diamante ou de um limpidíssimo cristal. Nesse castelo existem muitos aposentos, assim como no céu há muitas moradas. Este caste-lo tão resplandecente e formoso é uma pérola oriental, a árvore da vida que foi plantada nas águas vitais da própria vida, Deus.
Mas, por melhor que seja nossa inteligência não podemos compreender este castelo, assim como não compreendemos a Deus, que nos fez a sua imagem e semelhança. Entretanto, eu percebo que entre o castelo e Deus, existe a diferença que vai da criatura ao criador, mas basta sua Majesta-de afirmar que o fez à sua imagem para termos uma longínqua idéia da grande dignidade e beleza da alma.
Infelizmente é uma lástima e uma grande confusão não nos entendermos a nós mesmos, e não sabermos quem somos, talvez porque concentramos por demais a nossa atenção sobre o nosso corpo e as coisas exteriores. Nós sabemos que a alma existe, por ouvir dizer, mas desconhecemos as riquezas que nela existem e seu grande valor, bem como Quem nela habita. A alma é o nosso maravilhoso castelo, e então vejamos como se há de fazer para penetrar em seu interior, embora a mim pareça um disparate falar assim, porque se a alma é o castelo, claro está que não se entra nele, sendo ambos uma só coisa. Com efeito, a primeira vista pode parecer um desatino dizer a alguém que entre onde já se encontra. Mas ficai sabendo que há uma grande diferença entre os modos de se estar num mesmo lugar.
Entretanto, muitas almas andam em torno desse castelo, onde as sentinelas montam guarda, e aparentemente elas não têm interesse em entrar nele. Mas os livros de oração aconselham a alma a entrar em si mesma! Esse também é meu pensamento, pois as almas sem oração são como corpos entrevados ou paralíticos, e incapazes de se moverem. Há almas tão enfermas e tão mergulhadas nas coisas externas, que dão a impressão de não haver remédio nem possibilidade de fazê-las entrar em si mesmas. Mas eu vos digo que a porta para entrar nesse castelo é a oração e a meditação, embora eu não chame de oração o mexer dos lábios, sem pensar no que dizemos, nem no que pedimos nem quem somos nós, nem quem é Aquele ao qual nos dirigimos. Assim, o costume de falar à majestade de Deus como se fala a um estranho, dizendo o que foi decorado, a isto não chamo de oração. Não permita Deus que cristão algum reze desse modo. Dirijo-me às almas que querem entrar no castelo, embora saiba que muitas estão metidas ou ligadas ao mundo, e embora tenham bons desejos e encomendam-se uma vez por outra ao nosso Senhor, em geral elas refletem pouco sobre si mesmas, nunca muito detidamente e, no espaço de um mês, dia ou outro rezam distraídas com mil negócios a lhes encherem o pensamento. Assim, estando elas apegadas aos pensamentos, o coração se lhes vai para onde eles fluem, perdendo o verdadeiro tesouro que é caminhar em direção a Deus. De tempo em tempo essas pessoas procuram libertarem-se, o que já é grande coisa, quando o próprio reconhecimento de que não caminham bem os faz procurarem se acercar da porta do Cas-telo. Por vezes elas acabam entrando nas primeiras salas de baixo, mas juntamente com elas entram tantas sevandijas, que estas não lhes deixam ver a beleza do castelo, nem lhes dão sossego. Entre-tanto, já foi muito bom elas terem entrado, mesmo que por pouco tempo. 


CASTELO INTERIOR OU AS MORADAS
Santa Teresa de Ávila
Primeira Aula

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