Sem a encarnação não há a comunicação



Francisco nos ensinou a nascer para Deus, para o mundo, para as pessoas e para si mesmo. Tudo isto ele celebrou no Natal, que quis transformar numa experiência mística, num novo nascimento. Ele se fez menino com o Menino. O Espírito do Senhor faz acontecer nele seu "advento de doçura", no auge do rude inverno da natureza e da humanidade.

Estamos no fim do ano de 1223, numa pequena aldeia da montanha do Vale de Rieti, no centro da Itália. Esta aldeia chama-se Greccio. Ali o ano deve terminar como todos os outros: no frio, na distância isolada, na pobreza. A neve vai caindo e as atividades externas vão tomando-se raras. As mulheres fiam a lã, e os homens cortam e racham a lenha.

Gruta de Greccio
Diante da lareira, dentro de casa, contemplam o fogo que crepita. Eles, silenciosos, esperam. Esperam o quê? O retorno de dias melhores? A primavera? O sol? Tudo isto e mais ainda: um pouco de calor humano, amizade, alegria. Sonham com um sopro de inocência e de ternura. Mas o que pode trazer-lhes, naquele momento a felicidade?

Na Liturgia, a cristandade escuta: "Oxalá rasgasses os céus e descesses! (Is 63,19) "Céus, destilai orvalho lá do alto; nuvens, fazei chover o Justo..." (Is 45,8). Parece que em Greccio não há ninguém para falar aos corações. É a imensa solidão do inverno. E como são longas as noites de inverno na montanha! Há o uivar dos lobos. Terra gelada, terra ansiosa, a expectativa de um pouco de Amor, "quando enfim verás nascer a aurora divina?"

Ali todos ouvem falar de Francisco de Assis, que lhes ensinou a viver segundo o Evangelho e em grande fraternidade com todas as pessoas. Revela-lhes o verdadeiro rosto de Deus. Não do Deus dos domínios da eclesialidade, nem das Cruzadas, nem do dinheiro. Mas um Deus dos pequenos que vem a nós com doçura. 

E foi ali, em Greccio, que ele teve esta idéia, e tomado por um grande desejo disse aos seus irmãos: "Quero lembrar o Menino que nasceu em Belém, os apertos que passou, como foi posto num presépio, e ver com os próprios olhos como ficou em cima da palha, entre o boi e o burro." (1Cel, 84).

Naquele tempo, ainda não existiam os presépios de Natal, principalmente os presépios vivos. A ideia era nova, simples, e até ingênua.

Tinha surgido no coração de Francisco como uma chama de Amor. Uma idéia extraordinária como só os poetas podem ter, pois são eles que nos fazem voltar aos olhos da infância. E, logo, reencontramos os segredos perdidos. Um boi e um burro, um estábulo; e o Natal é restituído com o realismo de sua ternura.

Ver e fazer ver o Filho de Deus, nascendo ao mundo na humildade e na pobreza de um presépio entre animais; nada era mais importante para o futuro do mundo. Numa sociedade mercantil, onde o soberano era o dinheiro, o que podia ser mais útil do que fazer brilhar a gratuidade de um Deus? Num mundo de clérigos ávidos de poder e honra, o que podia ser mais salutar do que lembrar a humildade de um Deus? E num tempo de guerras, violências, Cruzadas... o que podia ser mais urgente, mais necessário do que fazer ver a doçura e a mansidão de um Deus?

Não era só uma simples ideia. Era toda a vida de Francisco. Reinventar o Natal, Reencontrar a Humanidade, a Ternura de Deus era o que Francisco queria para si mesmo, para os irmãos e para o mundo inteiro. Era o seu presépio vivo. Era preciso ver longe, muito longe. E assim, a partir da coisa mais simples do mundo, fora dos caminhos comuns, dos caminhos batidos, ele reencontrava a Fonte Oculta da Ternura e da Fraternidade. T


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