OS SALMOS, NOSSO ESPELHO 8 – COMO A CRIANÇA NO COLO DA MÃE

 Senhor, meu coração não se orgulha e meu olhar não é soberbo… Eu me acalmo e tranquilizo como criança desmamada no colo da mãe, como uma criancinha é a minha alma (Salmo 131,1-2).
  • Ao escrever essas palavras, o salmista sente-se em paz, porque confia no amor de Deus como um bebê que adormece aconchegado pelo carinho da mãe. E nós igualmente podemos confiar tanto ou mais do que ele, porque Deus nos prometeu um amor maior que o de todas as mães:
─ Ainda que o pai e a mãe me abandonarem, o Senhor me acolherá (Salmo 27,10).
─ Sobre os joelhos sereis acariciados. Qual mãe que acaricia os filhos assim vou dar-vos meu carinho (Is 66,12-13).
  • Essa promessa de amor, Deus levou-a ao cume com a vinda de Cristo:
─ Vede com que amor nos amou o Pai, ao querer que fôssemos chamados filhos de Deus. E nós o somos! ( 1 Jo 3,1).
─ Se Deus é por nós, quem será contra nós? Deus, que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como é que, com ele, não nos dará tudo?(Rm 8,31-32).
Seremos bons cristãos na medida em que a nossa alma ficar impregnada do sentido da nossa filiação divina: de um amor filial a Deus, confiante, abandonado e agradecido, capaz de exclamar em todo momento, como São João: Nós conhecemos o amor de Deus e acreditamos nele! (1 Jo 4,16).
A melhor maneira de viver esse amor filial é esforçar-nos por pensar, sentir e agir como filhos muito amados (Ef 5,1); melhor ainda se nos relacionamos com Deus como filhos pequenos, como crianças simples e humildes, que acreditam no carinho inabalável do Pai (pense no pai do filho pródigo); que confiam nele e se deixam querer; e que, por isso mesmo, se deixam cuidar e guiar pelo Pai com alegria.
Certa vez os discípulos perguntaram a Jesus: “Quem é o maior no Reino dos Céus?” O Senhor deu-lhes a resposta com um gesto e umas palavras: Jesus chamou um menino, colocou-o no meio deles e disse: “Em verdade vos digo, se não vos converterdes e tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus. Quem se faz pequeno como esta criança, esse é o maior no Reino dos Céus (Mt 18, 1-4).
Isso é poesia? Não. «Não é ingenuidade, mas forte e sólida vida cristã»[1], que só podemos viver se nos deixamos conduzir pelo Espírito Santo, como diz São Paulo (Rm 8,14).
Grandes santos aprofundaram maravilhosamente nesse espírito de infância espiritual. Este foi o pequeno caminho que Deus inspirou a Santa Teresinha e que tem suscitado tantos frutos na Igreja. É também um caminho feliz pelo qual Deus guiou São Josemaria até as alturas de santidade no meio das trabalhos e deveres cotidianos.
Penso que, para esta meditação, poderão ajudar-nos alguns traços do espírito de infância que São Josemaria praticou e ensinou. São os que pessoalmente eu pude contemplar nele, e entendi que eram lições que convinha guardar. Vamos, pois, ver um pequeno caleidoscópio dessas luzes da infância espiritual.
─ Pedir a lua. «Ser pequeno. As grandes audácias são sempre das crianças. – Quem pede a lua?…»[2]. A alma de criança sabe sonhar, sabe pedir a lua  e as estrelas. Por outras palavras, o filho de Deus que se faz criança diante de Nosso Senhor sabe ter sempre grandes metas e grandes ideais, e não desiste delas por se ver pequeno e incapaz. Nunca se sente fracassado. Você já imaginou uma coisa mais ridícula que um garotinho dizendo “eu sou um fracassado”?
─ Bater à porta. «Perseverar. – Uma criança que bate à uma porta, bate uma e duas vezes, e muitas vezes…, com força e demoradamente, sem se envergonhar! E quem vai abrir, ofendido, é desarmado pela simplicidade da criaturinha inoportuna… – Assim tu com Deus». Se formos humildes, confiantes e agradecidos, saberemos pedir e obter o que precisamos sem cansar-nos, tal como Jesus nos ensinou: Convém orar sempre e não desfalecer…Se vós, maus como sois, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que lhe pedem (Lc  11,13 e 18,1).
─ Subir a escada. Uma comparação de que Santa Teresinha gostava, e que São Josemaria explanava poeticamente: «Manifestemos a Jesus que somos crianças. E as crianças, as crianças pequeninas e simples, quanto não sofrem para subir um degrau! Parece que estão ali perdendo o tempo. Finalmente, subiram. Agora, outro degrau. Com as mãos e os pés, e com o impulso de todo o corpo, conseguem um novo triunfo: mais um degrau. E volta a começar. Que esforços! Já faltam poucos…, mas então um tropeção… e zás!… lá em baixo. Toda machucada, inundada de lágrimas, a pobre criança começa, recomeça a subida.
»Assim nós, Jesus, quando estamos sós. Toma-nos Tu em teus braços amáveis, como um Amigo grande e bom da criança simples; não nos soltes até que estejamos lá em cima; e então – oh, então! – saberemos corresponder ao teu Amor Misericordioso, com audácias infantis, dizendo-te, doce Senhor, que, a não ser Maria e José, não houve nem haverá mortal algum – e os tem havido muito loucos –- que te ame como eu te amo»[3].
─ Escrever juntos. «Quando queres fazer as coisas bem, muito bem, é que as fazes pior. – Humilha-te diante de Jesus, dizendo-lhe: – Viste como faço tudo mal? Pois olha: se não me ajudas muito, ainda farei pior! – »Tem compaixão do teu menino; olha que quero escrever todos os dias uma página grande no livro da minha vida… Mas sou tão rude!, que se o Mestre não me pega na mão, em vez de letras esbeltas, saem da minha pena coisas tortas e borrões, que não se podem mostrar a ninguém. – »De agora em diante, Jesus, escreveremos sempre juntos os dois»[4].
─ Crianças de borracha. «Se bem repararmos, existe uma grande diferença entre uma criança e uma pessoa mais velha, quando caem. Para as crianças, a queda geralmente não tem importância: tropeçam com tanta frequência! E, se por acaso lhes escapam umas lágrimas grandes, o pai explica-lhes; os homens não choram. Assim se encerra o incidente, com o garoto empenhado em contentar o pai…
»Na vida interior, a todos nos convém ser quasi modo geniti infantes, como crianças recém-nascidas, como esses pequeninos que parecem de borracha, que até se divertem com os seus tombos, porque logo se põe de pé e continuam com as suas correrias; e porque também não lhes falta – quando necessário – o consolo de seus pais.
»Se procurarmos comportar-nos como eles, os tropeções e os fracassos na vida interior – alias, inevitáveis – nunca desembocarão na amargura. Reagiremos com dor, mas sem desânimo e com um sorriso que brota, como água límpida, da alegria da nossa condição de filhos desse Amor, dessa grandeza, dessa sabedoria infinita, dessa misericórdia que é o nosso Pai»[5].
─ A sabedoria dos pequeninos. Há umas palavras de Jesus que tocam o coração: Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelastes as pequeninos! Quantas vezes pessoas simples, velhinhas fiéis e devotas que mal sabem ler, entendem mais das grandezas de Deus do que alguns teólogos sem fé e amor.
«Há um saber – dizia São Josemaria –a que só se chega com santidade: e há almas obscuras, ignoradas, profundamente humildes, sacrificadas, santas, com um sentido sobrenatural maravilhoso… É um sentido sobrenatural que não raramente falta nas disquisições arrogantes de pretensos sábios: Extraviaram-se em seus vãos pensamentos, e se lhes obscureceu o coração insensato (Rm 1,21-22). Pretendendo-se sábios, tornaram-se estultos»[6].
─ Entre os braços da Mãe. «Não estás só… – Não sentes na tua mão, pobre criança, a mão de tua Mãe: é verdade. – Mas… não tens visto as mães da terra, de braços estendidos, seguirem os seus meninos quando se aventuram, temerosos, a dar os primeiros passos sem ajuda de ninguém? – Não estás só; Maria está junto de ti»[7].
[rascunhos de um livro em elaboração]

[1] Cf. São Josemaria Escrivá, Caminho, nn. 852-853
[2] Caminho, n. 857
[3] São Josemaria, Forja n. 346
[4] Caminho n. 882
[5] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 146
[6] Idem, En diálogo con el Señor, pág.
[7] Caminho, n. 900

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