ELIZABETH DA TRINDADE (1880-1906) SELEÇÃO DE FRASES DAS CARTAS DA BEATA ELISABETH DA TRINDADE



Seleção I
Eu sou “Elisabeth da Trindade”, ou seja, a Elisabeth que desaparece, que se perde nos Três e
se deixa invadir por eles.
Só nos resta esvaziar-nos, desapegarmo-nos de tudo, para que nada mais exista senão Ele, e só
Ele… É aos pés da cruz que a gente sente em profundidade todo esse vazio das criaturas, essa
sede infinita d´Ele.
Sim, nós lhe pertencemos totalmente, entreguemo-nos todas ao nosso predileto Jesus num
generoso abandono! Fazer a sua vontade é o que há de mais belo. Ofereçamos-lhe nosso exílio. É
tão doce sofrer por quem se ama…
Amemos, portanto, o nosso Dileto, mas com amor calmo e profundo! Permaneçamos em
recolhimento ao lado Daquele que é (Esd 3,14), junto ao Imutável cuja luz sempre resplende sobre
nós. Nós somos aqueles que não são. Vamos até ele, que quer que sejamos todas suas e que nos
envolve por toda parte, de maneira que já não somos mais nós que vivemos, mas sim ele (cf. Gl
2,20). Como é grande a bondade do divino Prometido e como parece refulgir mais na obscuridade da
prova! Ele nos marca com o sinete da cruz para que mais nos assemelhemos a ele… Na realidade,
existem correspondências de amor que só se pode compreender na cruz.
Ele me aparece sempre mais ao meu pensamento como a Águia divina. Nós somos a presa do
seu amor. Agarra-nos, coloca-nos sobre suas asas e leva-nos para longe, às alturas sublimes
onde a alma e o coração gostam de perder-se!
… acaso podemos desejar alguma coisa que ele não queira? Porventura não estamos prontas a
permanecer neste mundo enquanto ele quiser? Como é bonito unir, identificar a nossa vontade
com a dele! Que alegria sofrer, dar algo a quem se ama.
“Deus em mim, e eu nele” deve ser o nosso lema. Que jubiloso mistério a presença de Deus
dentro de nós, neste íntimo santuário das nossas almas onde sempre podemos encontrá-lo,
também quando não percebemos mais sensivelmente a sua presença! Que importa o sentimento?
Talvez ele esteja também mais perto, quando menos o sentimos.
É aqui, no fundo da alma, que gosto de procurá-lo. Preocupemo-nos em não deixá-lo jamais
sozinho, e em que a nossa vida seja uma contínua oração. Quem poderá, acaso, raptar-nos o
nosso Bem-Amado ou distrair-nos daquele que nos tomou e nos fez totalmente suas? Como é
grande a sua bondade!
… Os seus sofrimentos agradam muito ao seu Bem-Amado, o qual se compraz em prolongá-los
desta maneira. Eles constituem o sinal da sua predileção, da sua vontade de uni-la intimamente a
si. Se ele nos prova, ocultando-se à nossa alma, é porque já sabe que o amamos demasiado para
que o deixemos. Por isso, deixemos que ele ofereça também a outras almas as suas doçuras e as
suas consolações para atraí-las a si. E nós amemos esta obscuridade que nos aproxima dele.
Se soubesse como às vezes sinto nostalgia do céu! Como gostaria de voar para lá, junto de meu
Deus! Percamo-nos nessa Trindade Santa, nesse Deus todo Amor, deixemo-nos transportar nessas
regiões onde não há mais do que ele, só ele!
Pertencemos-lhe… deixemos que o nosso Bem-Amado nos tome e leve aonde melhor lhe
aprouver… o meu coração não agüenta mais, pois está todo possuído por Ele! Mas o que estou
dizendo? Ele não se apodera de nós para levar-nos para longe, Ele que está sempre dentro de
nós: Ele, o “Imutável”, “Aquele que é” (Ex 3,14).
… Encontrei o meu céu na terra, nesta querida solidão do Carmelo onde estou a sós com meu
único Deus. Tudo faço com ele e realizo todas as coisas com alegria divina.
Oh! Sinto que todos os tesouros encerrados na alma de Cristo são meus e me sinto, assim, tão
rica. Com que alegria e felicidade vou abeberar-me neste manancial em favor de todos aqueles
que amo e que me fizeram tanto bem.
Aqui não há nada, nada mais que ele somente. Ele é tudo, ele basta, só se vive dele e
encontramo-lo por toda parte…
… quando se sente triste, diga-o àquele que tudo sabe, que tudo compreende e que é o Hóspede
de sua alma. Pense que ele se acha dentro de você como numa pequena hóstia.
Durante o dia, pense às vezes naquele que está dentro de você e que tem tanta sede de ser
amado. É perto dele que você sempre me há de encontrar!
Veja só como é maravilhosa a união das almas! Devemos amar-nos acima de tudo o que é
passageiro: então nada pode separar. Amemo-nos assim.
Aconselho-a a simplificar o número de livros… Pegue o seu crucifixo, olhe-o, ouça-o. Você sabe
que é ali que temos nosso encontro.
Mesmo no trabalho, podemos rezar ao bom Deus: basta pensar nele. Então tudo se torna suave e
fácil, porque não agimos sozinho, mas ali também Jesus está atuando.
Amo sempre mais estas queridas grades que me constituem prisioneira do amor.
Vivamos com Deus como com um amigo. Procuremos avivar a nossa fé para comunicar-nos com
ele através de todas as coisas, pois assim conseguimos a santidade.
Nós carregamos o céu dentro de nós, porque aquele que sacia os bem-aventurados, na luz da
visão beatífica, entrega-se a nós na fé e no mistério.
… o abandono leva-nos a Deus. Eu sou muito jovem, mas às vezes me parece que já sofri muito.
Então, nesses momentos de confusão, quando o presente me era tão doloroso e o futuro me
parecia ainda mais obscuro, eu fechava os olhos e me abandonava como uma criança nos braços
daquele Pai que está nos céus.
Não basta deter-nos diante da cruz e contemplá-la, mas precisamos recolher-nos na luz da fé,
elevar-nos mais alto e pensar que ela constitui o instrumento do amor divino.
A Carmelita é uma alma que contemplou o divino Crucificado, que o viu oferecer-se como vítima
ao seu Pai em prol das almas; ela reflete à luz desta grande visão da caridade de Cristo e
compreendeu, assim, a paixão de amor da sua alma e quis entregar-se como ele!…
… Vivamos na intimidade com o nosso Amado, sejamos totalmente dele como ele é
completamente nosso.
Bem que eu quisera ser uma alma totalmente silenciosa e adoradora para poder penetrar sempre
mais nele. Quisera encher-me de Sua plenitude, que pudesse dá-lo mediante a oração àquelas
pobres almas que ignoram o dom de Deus!
Quando contemplo a minha vida passada, descubro, como que uma divina perseguição de amor
sobre minha alma. Oh! Quanto amor! Sinto-me como que esmagada sob o seu peso e só me
resta calar e adorar!
Quer saber como é que me comporto quando me encontro um pouco cansada? Olho para o
crucifixo, e, vendo como ele se sacrificou por mim, sinto que só posso prodigalizar-me por ele e
consumir-me, a fim de restituir-lhe um pouco daquilo que me deu!
E pensar, minha boa Madre, que temos o céu dentro de nós, aquele céu de que às vezes sinto tão
pungente nostalgia!
Oh! Se você soubesse como ele é bom, como é todo amor! Eu lhe peço que se revele à sua alma,
que seja o amigo que você sempre saiba encontrar. Então tudo se esclarece e ilumina e a vida se
torna algo tão belo de viver!
Creio que não há nada que nos manifesta tanto o amor que está no coração de Deus como a
Eucaristia. É a união consumada, é ele em nós e nós nele; e não lhe parece que isto é o céu na
terra? Ele colocou no meu coração uma sede de infinito e uma necessidade tão grande de amar, que só
ele pode saciar. O sacrifício é um sacramento que nos leva a Deus. Ele o envia àqueles que ama e que deseja estejam perto dele!
… Se o bom Deus nos separou, é porque ele quer ser o Amigo que a gente sempre pode
encontrar. Ele está postado à porta do coração… e espera.
E eu amo tanto aquele Deus que me quer ciumentamente só para si. Sinto tanto amor me
envolvendo a alma! É como se fosse um oceano em que me lanço e me perco… Ele está em mim
e eu nele. Só tenho que amá-lo e deixar que me ame, a cada instante, em cada coisa.
A alma não pode resistir ao seu apelo. Ele subjuga, acorrenta; a gente não se pertence mais a si,
mas nos tornamos a presa do seu amor. O coração pode sofrer arranhões, mas na alma reina
uma paz inefável…
Eu sou “Elisabeth da Trindade”, ou seja, a Elisabeth que desaparece, que se perde nos Três e se
deixa invadir por eles. Vivamos de amor, sejamos simples como ela, sempre no mais completo abandono, imolando-nos momento após momento no cumprimento da vontade de Deus, sem procurar coisas
extraordinárias. Nós somos tão fracas ou, até mesmo, não somos senão miséria; mas ele sabe disso e gosta de perdoar-nos, de soerguer-nos e, depois de, de arrebatar-nos para junto de si, na sua pureza, na
sua santidade infinita. Quero ser santa. Santa para fazê-lo feliz. Peça-lhe que eu só viva de amor! Esta é a minha vocação!
Os santos são almas que se esquecem a todo instante de si, que desaparecem de tal maneira
naquele que amam, que não se preocupam com sua própria pessoa…
Como compreendo, agora, o recolhimento e o silêncio dos santos que não conseguiam mais
abandonar a sua contemplação.
Gosto de contemplar a minha vida de carmelita nesta dupla vocação: “Virgem-Mãe”. Virgem,
desposada com Cristo na fé. Mãe, salvando as almas e multiplicando os filhos adotivos do Pai…
Não existem mais distâncias, porque já é o Uno como no céu… o céu que um dia chegará quando
então veremos a Deus na sua luz.
Reze por mim: o horizonte é maravilhoso, o sol divino faz brilhar a sua grande luz. Peça que a
borboletazinha queime suas asas em seus raios.

http://reporterdecristo.com/elizabeth-da-trindade-1880-1906

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