A CRUZ QUE NOS INTERPELA

A Cruz que Deus nos envia
A maior parte das “cruzes” da vida aparece sem nós as termos procurado. São as moléstias físicas ou psíquicas; são os aborrecimentos que surgem no mundo do nosso trabalho; são as dificuldades e aflições econômicas, o desemprego, a insegurança…; ou então os sofrimentos que experimentamos no convívio habitual com a família: asperezas de caráter do marido ou da mulher, desgostos com os filhos, parentes desabusados ou intrometidos, indelicadezas, ofensas…
Pense que todo o tipo de sofrimento nos interpela: Deus nos fala através dele. Que resposta lhe damos? Não poucas vezes, a nossa reação espontânea é a irritação, o protesto, ou a aflição, a tristeza, o desânimo, a queixa. Há corações que não sabem sofrer, ficam perdidos diante dos sofrimentos cotidianos, e sucumbem esmagados por umas “cruzes” que sentem como se fossem uma laje que os asfixia, quando Deus as oferece como asas para voar.
Deveriam lembrar-se do mau ladrão. Junto de Jesus crucificado, deixou-se arrastar pelo ódio à Cruz. Morreu contorcendo-se e espumando de raiva na sua cruz inútil. Pelo contrário, o bom ladrão soube descobrir na sua cruz uma escada que lhe serviu para chegar a Cristo e subir ao Céu (Cf. Luc 23,39-43).
Não vale a pena contorcer-se e protestar. Assim, Deus não nos poderá “trabalhar”. “Sofreremos mais e inutilmente”[1], e nenhum proveito tiraremos da dor.
Qualquer sofrimento nos interpela, dizíamos. Também Cristo foi interpelado, na Cruz, por todo tipo de sofrimento, por cada um daqueles padecimentos com que foi ferido pelos nossos pecados. E como respondeu? De cada ferida que recebia, brotava um ato de amor e uma virtude. Esse é o exemplo para o qual devemos olhar.
Acusado com mentiras revoltantes, responde com mansidão. Provocado maldosamente, responde com o silêncio. A cada chicotada, a cada espinho que lhe fere a cabeça, a cada prego que lhe atravessa as mãos e os pés, responde com a paciência; a cada ofensa, responde com o perdão; a cada escarro, a cada bofetada, responde com a humildade; a cada bem  que lhe tiram (sangue, pele, honra, roupas) responde dando; à rejeição dos homens, responde entregando-se totalmente por eles.
A cruz que ensina a amar
Sim, cada uma das nossas dores traz uma mensagem de «Cristo que pergunta por nós»[2]. Do alto da Cruz, Ele olha-nos pessoalmente, chama-nos pelo nosso nome e nos pergunta: “Não queres aprender a sofrer comigo? Não queres transformar a tua dor em amor? Não queres ter um sofrimento santificador?”
Quando nos decidiremos a isso? Quando perceberemos estas interrogações afetuosas, estas sugestões da graça de Deus? “Perante esse pequeno desaforo – Deus nos diz –, por que não respondes com um silêncio paciente e humilde como o meu, sem ódio nem discussões? Se te custa aguentar o caráter daquela pessoa, por que não te esforças por viver melhor a compreensão e a desculpa amável? Quando alguém te ofende, por que  – sem deixares de defender serenamente o que é justo – não te esforças por perdoar, como Deus te perdoa?”
E, assim, quando as dores físicas ou morais –os desgostos, as decepções, os fracassos, os fastios, o tédio, a solidão, a depressão…– nos acabrunham, a voz cálida de Cristo crucificado convida-nos a ser generosos e a subir um degrau na escada do amor: a crescer na  mansidão, na bondade e na grandeza de alma; a aumentar a confiança em Deus; a ser mais desprendidos de êxitos, bem-estar e posses materiais; sobretudo, a meter-nos mais decididamente na fogueira de amor que é o coração de Cristo, com desejos inflamados de corresponder, de desagravá-lo, de imitá-lo, de unir-nos ao seu Sacrifício redentor. Todos esses sentimentos fazem grande a alma cristã.
Queremos fazer este aprendizado cada vez melhor? Meditemos com frequência a Paixão de Jesus. É uma prática espiritual que, ao longo dos séculos, alimentou o amor e a generosidade de milhões de cristãos. Peguemos muitas vezes os relatos detalhados da Paixão, que os quatro Evangelhos conservam como um tesouro; ou livros que comentem piedosamente a Paixão e Morte de Cristo; e fiquemos contemplando, representando as cenas com a imaginação, “metendo-nos” nelas, e dialogando com o Senhor.
«Queres acompanhar Jesus de perto, muito de perto?… Abre o Santo Evangelho e lê a Paixão do Senhor. Mas ler só, não: viver. A diferença é grande. Ler é recordar uma coisa que passou; viver é achar-se presente num acontecimento que está ocorrendo agora mesmo, ser mais um naquelas cenas. Deixa, pois, que teu coração se expanda, que se coloque junto do Senhor…»[3]
Procuremos proceder assim, porque, então, choraremos os nossos pecados, que tão dolorosamente rasgaram o corpo e a alma de Cristo; teremos ânsias de reparar esses nossos males, oferecendo ao Senhor os nossos sofrimentos com espírito de penitência; e as nossas dores nos parecerão pequenas em comparação com as de Jesus: «O que vale, Jesus, diante da tua Cruz, a minha; diante das tuas feridas, os meus arranhões? O que vale, diante do teu Amor imenso, puro e infinito, esse pesadume de nada que me puseste às costas?» [4]

Trecho do livro de F. Faus A sabedoria da Cruz

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