Liberdade I: O que é a liberdade?

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Liberdade I: Entender a liberdade
Um pequeno diálogo

Todos amamos a liberdade. Vemos nela um valor imprescindível para podermos ter uma vida autenticamente humana. Mas, será que entendemos o que é a liberdade?
Que diria – vamos supor – uma menina estudante, uma adolescente comum, se lhe perguntássemos: – Você acha que alguém é capaz de viver autenticamente sem liberdade?
Eu não duvido de que a sua resposta seria: – Não! E provavelmente acrescentaria mais um comentário: – Se não tenho liberdade, não posso fazer nada. Como posso me realizar? Se estou presa, dependente em tudo dos outros, como posso ser eu mesma?
– Ou seja que, para você, a liberdade consiste em…?
– Em poder fazer o que eu quero, sem imposições nem “podações”!
– O quê?
– Sem que me imponham o que tenho que fazer nem me “podem” a toda a hora: “Não pode sair”, “Não vai viajar sozinha com esses amigos”, “Se não voltar antes de tal hora, ficará proibida de ir a outras festas”…
– Certo, certo. Se não entendi mal, você quer dizer que, para ser livre, precisa de duas coisas: em primeiro lugar, de não ser impedida por outros (de não estar amarrada por imposições e proibições); e, em segundo lugar, de poder fazer o que quer.
– Exatamente. Ser livre é poder fazer o que eu quero.
Muito bem. Tomo nota desta última frase, que lembraremos mais adiante. Agora, vamos refletir um pouco sobre as tais duas coisas.
A primeira – não estar tolhidos pelos outros – é importante, mas eu diria que não é a mais importante para se ter uma autêntica liberdade. Mesmo um prisioneiro escravizado num campo de concentração pode possuir uma liberdade interior mais profunda que a dos seus carcereiros livres. Sobre isto haveria coisas muito bonitas a dizer, mas aqui não é o lugar.
A segunda coisa – poder fazer o que se quer – parece-me mais interessante. Mas precisa de ser bem compreendida, porque, se não, estragamos tudo…
Para nos entendermos melhor, será bom pensarmos em dois tipos de falsa liberdade, que nos ajudarão a enxergar a verdadeira.
Duas falsas liberdades
Imagine, em primeiro lugar, que observa na rua um homem que, de olhos esbugalhados e soltando grandes gargalhadas, vai batendo com um tijolo na cabeça dos velhinhos, arrancando bebês dos braços das mães e atirando-os como bolas de basquete para o outro lado da rua, quebrando as vitrines das lojas e deitando-se no meio da rua, lá onde o fluxo dos carros é maior. O que você diria? Que está doido varrido, não é? E, no entanto, você tem que concordar comigo em que ele está “fazendo tudo o que quer”, enquanto não lhe puserem a camisa-de-força. Faz tudo o que lhe dá na telha, só que… está mal da telha, e isso o torna um caso patológico, e não um autêntico homem livre. Quando falta a razão, não se pode falar em liberdade, mas em loucura.
Já temos uma primeira condição da autêntica liberdade: deve ter como base a razão, a compreensão inteligente da realidade. Só em cima desse conhecimento racional é que se pode exercitar a liberdade, é que se pode querer, escolher, decidir conscientemente qualquer coisa. Por isso, uma boa definição de liberdade inclui necessariamente a idéia de reflexão, de decisão lúcida. Veja a que dá o Catecismo da Igreja Católica: “A liberdade é o poder, baseado na razão e na vontade, de agir ou não agir, de fazer isto ou aquilo, portanto de praticar atos deliberados” (n. 1731).
O que acabamos de ver complementa-se com a consideração de um segundo tipo de falsa liberdade, a que poderíamos chamar liberdade de destruição. Não é como a do louco, pois esta segunda liberdade baseia-se na razão, na inteligência e, muitas vezes, até numa extraordinária inteligência, e nuns raciocínios extremamente lógicos e bem concatenados…, mas está toda ela orientada para o mal. É a liberdade dos gângsters, dos mafiosos, dos traficantes de drogas, dos contrabandistas de armas, dos matadores profissionais, etc, etc. Pensam, planejam, arquitetam tudo muito bem, decidem e “fazem o que querem”, mas o que querem é um mal objetivo, um mal que destrói.
Isto ajuda-nos a ver por que a liberdade pôde ser comparada à energia atômica: porque, como ela, possui um enorme poder, que tanto pode ser utilizado para o bem como para o mal, para aniquilar de uma vez milhões de seres humanos ou para fornecer energia a milhares de cidades e de fábricas. Todas as pessoas sensatas concordam em que só é humano e certo usar a energia atômica para uma finalidade construtiva e boa. Da mesma forma, todas as pessoas inteligentes e sensatas podem compreender que a liberdade só é humana (e, por isso, autêntica) quando se utiliza visando uma finalidade construtiva e boa.
Acabamos, assim, de pôr diante dos olhos um segundo elemento importantíssimo – ao lado da razão – para a liberdade: a finalidade.
Toda a liberdade, de fato, é desejada e exercitada para alcançar uma finalidade (liberdade para namorar, para viajar, para amar, para ter essas amizades, para estudar isto ou aquilo, para gozar dos prazeres da vida, etc.). Não existe verdadeira liberdade sem um fim. A pessoa que diz “Quero ser livre para ser livre”, ou está dizendo uma tolice, ou na realidade está querendo dizer “Eu quero ser livre para fazer tudo o que o meu egoísmo desejar”, ou por outras palavras, “Eu quero a liberdade para fazer tudo o que, em cada momento, me apetecer”, com o que declara nitidamente a finalidade para a qual quer a sua liberdade: para o seu capricho e o seu interesse puramente egoísta.
finalidade, em função da qual queremos ser livres, é o indicador da categoria e da autenticidade da nossa liberdade. Liberdade para o bem, para o mal…, ou paranada (para o vazio de uma vida inútil).

Poder fazer o que queremos
No início deste texto, víamos a resposta que uma adolescente daria provavelmente à pergunta sobre o que é a liberdade: – “Ser livre é poder fazer o que eu quero”.
Lembrando-nos das duas características da boa liberdade que acabamos de considerar – razão, inteligência lúcida para escolher; e finalidade boa -, podemos comentar a essa menina:
– Você fala-me de “poder fazer o que quer”. Muito bem. Então, diga-me o que quer, na vida, e por que o quer.
Talvez você me retruque dizendo que lhe é impossível responder, porque, realmente, quer muitas coisas e por motivos muito diversos, e não dá para enumerá-los todos. Mas, se pensar devagar sobre qual é a finalidade mais profunda por que você quer todas as coisas que deseja na vida, penso que acabará dizendo: “Eu quero tudo o que me leve a ser feliz, tudo o que leve à minha realização, ao meu bem”.
Com isso terá expressado algo de muito verdadeiro, pois é isso mesmo o que, no fundo – no fundo do fundo -, todos nós queremos: o nosso bem, a realização plena da nossa vida. Essa é a finalidade básica a que todos aspiramos. Ninguém, a não ser um demente, quer o seu mal.
Acontece, porém, que a maioria dos que querem a sua realização, o seu próprio bem, mesmo que disponham de toda a liberdade possível, não o alcançam. São livres, podem usar a sua liberdade, mas fracassam.
Aqui vale a pena iniciar uma reflexão que é de importância capital. Não basta, com efeito, dispor da liberdade, ou seja, estarmos livres de imposições, restrições e amarras, para sermos autenticamente livres. A nossa liberdade pode revelar-se uma falsa liberdade – inútil e frustrante – por três motivos:
1) Porque nos falta lucidez, quer dizer, porque o nosso raciocínio, o nosso modo de pensar na vida e nas coisas da vida, é confuso ou errado. Pensamos mal e, por isso, escolhemos mal.
2) Porque, ainda que pensemos bem, quando chega a hora de “fazer o que queremos” (no caso, o que é bom, o que verdadeiramente nos vai realizar), não “podemos”, devido à fraqueza da nossa vontade.
3) E finalmente, porque, mesmo começando a andar com lucidez e entusiasmo pelos caminhos bem escolhidos da nossa realização, pode suceder que não sejamos capazes de chegar até ao final por nos faltarem as forças necessárias; e que então desistamos, sucumbamos antes de termos atingido nenhuma meta.
Cada um desses três perigos, cada uma dessas doenças da liberdade, pede um comentário, que o visitante do site poderá encontrar nos textos numerados sobre a liberdade, que irão aparecendo a seguir.

(Adaptação de um trecho do livro de F. Faus: Autenticidade & Cia)

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