A SANTIDADE NO TRABALHO COTIDIANO[1]


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         Ponto de luz«Ao ser assumido por Cristo, o trabalho se nos apresenta como realidade redimida e redentora: não é apenas a esfera em que o homem se desenvolve mas também meio e caminho de santidade, realidade santificável e santificadora» (É Cristo que passa, n. 48).
O carpinteiro, filho do carpinteiro
A primeira coisa que lembra são Josemaria nesta frase é que o trabalho humano foi assumido por Cristo. Este é o ponto de partida desta meditação e das que vêm a seguir.
Que nos diz o Evangelho? Comecemos por umas palavras de São Lucas: Quando Jesus iniciou o seu ministério público, tinha cerca de trinta anos, e era tido como filho de José (Lc 3,23).
Ao começar a pregar o Reino de Deus e a avalizar a sua pregação com os milagres, Jesus tinha cerca de trinta anos. Antes disso, o que fez?
A resposta a encontramos em uma frase dos conterrâneos de Jesus na  cidadezinha de Nazaré, a aldeia que o viu crescer, tornar-se adolescente e chegar à maturidade.
Não é este o filho do carpinteiro? Não é Maria sua mãe?. Era a primeira vez que Jesus pregava na sinagoga de sua aldeia, deixando admirados os que o ouviam: De onde lhe vem esta sabedoria e esta força miraculosa? (Mt  13,54-55).
Isso significa que Jesus era conhecido, como a maioria de nós, pela sua família e pelo seu trabalho.
Indo mais a fundo, isso significa que Jesus, Deus feito homem, quis passar a maior parte de sua vida – cerca de trinta anos – trabalhando e convivendo com Maria e José, no calor de um lar, sem se dedicar a nada fora da vida e do trabalho ordinários.
Sim, o próprio Deus – o Verbo encarnado – assumiu o trabalho humano e a família, e os transformou em vida e experiência sua, em algo de divino e, portanto, realidade santa.
Por isso, entende-se que são Josemaria, inspirado por Deus, proclamasse sempre que o trabalho é – como citávamos acima – «meio e caminho de santidade, realidade santificável e santificadora».
De forma sucinta, dava aos seus filhos este lema: «A nossa vida pode-se resumir dizendo que temos que santificar a profissão, santificar-nos na profissão, e santificar outros com a profissão»[2].

Santificar a profissão
             Como você acha que foi o trabalho de Jesus na oficina de José?
Sem a menor dúvida, foi um trabalho bem feito, acabado com carinho. Imitar Jesus nisso é a primeira condição para «santificar o trabalho»: fazê-lo bem, com a maior perfeição possível – dentro das nossas limitações –, transformando-o assim numa obra digna de ser ofertada a Deus.
Você acha que daria para falar de «amor» perante um trabalho marretado, «despachado» às pressas, incompleto, defeituoso?
Jesus colocava muito amor no trabalho porque, naqueles trinta anos da vida oculta, via nas tarefas diárias a vontade do Pai, que está comigo; e não me deixou sozinho, porque faço sempre o que lhe agrada (Jo 8,29).
Com isso, desvenda-se para nós outra luz sobre o trabalho santificado: fazê-lo sempre na presença de Deus, que «está aqui, que me vê e que me ouve». Ao dedicar-nos ao trabalho, em qualquer momento podemos escutar o Senhor que nos diz, no íntimo da alma: «Cuida bem disso» E procuraremos responder-lhe: «Com a tua ajuda, vou me esforçar para que fique o melhor possível».
«Persuadi-vos – escrevia são Josemaria – de que não é difícil converter o trabalho num diálogo de oração. É só oferecê-lo a Deus e pôr mãos à obra, que já Deus nos escuta e nos alenta»[3].
Era muito agradável ouvir são Josemaria dizer: «Diante de Deus, nenhuma ocupação é em si grande ou pequena. Tudo adquire o valor do Amor com que se realiza»[4] (ele sempre escrevia com A maiúsculo a palavra amor, referida a Deus). Quando visitava a Universidade de Navarra, da qual era fundador e Grão Chanceler, comentava que, se alguém lhe perguntasse qual era o trabalho mais importante naquela Universidade, não saberia dizer se era o do Reitor ou o da mais simples encarregada da limpeza. Dos dois, o mais importante seria aquele que fosse feito com mais amor de Deus.
É uma verdade que deveríamos ter especialmente presente em épocas de desemprego e subemprego. Se alguma vez somos forçados a aceitar um trabalho que está por baixo do nosso preparo e da nossa experiência, não esqueçamos que – enquanto procuramos outro trabalho melhor – Deus espera que realizemos o atual com a categoria do trabalho de Jesus em Nazaré[5]. «Minha mãe – dizia o poeta Charles Péguy – empalhava cadeiras com o mesmo espírito com que os antigos construíam as catedrais».
O Cardeal Albino Luciani, poucos dias antes de ser eleito como Papa João Paulo I – «o Papa do sorriso» –, escreveu uma nota biográfica sobre são Josemaria, na revista Il Gazzetino, de Veneza. Fazia eco aos ensinamentos de Mons. Escrivá, e dizia: «É lá, bem no meio da rua, no escritório, na fábrica, que nos fazemos santos, desde que cumpramos o nosso dever com competência, por amor de Deus e alegremente, de forma que o trabalho cotidiano não se torne o “trágico cotidiano”, mas antes o “sorriso cotidiano”».
Podemos resumir este capitulo com a seguinte frase de são Josemaria: «A dignidade do trabalho baseia-se no Amor. O grande privilégio do homem é poder amar, transcendendo assim o efêmero e o transitório»[6]
[Capítulo do nosso livro Deus na vida cotidiana]
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[1] Neste capítulo e nos seguintes, meditaremos sobre o trabalho dentro da perspectiva da santificação do cotidiano, ou seja, do “nosso trabalho de cada dia”. Não focalizaremos, portanto, nem a teologia – muito rica – do trabalho, nem o valor social do trabalho, tal como o expõe a Doutrina Social da Igreja. Pode ser útil consultar a Encíclica Laborem exercens, de são João Paulo II, e o livro do teólogo J.L. Illanes, A santificação do trabalho, Ed. Quadrante, São Paulo 1968.

[2] cf. Carta 15-X-1948, n.6. Citada por A. Vázquez de Prada, O Fundador do Opus Dei, vol III.
[3] Homilia Trabalho de Deus, em Amigos de DeusI, n. 67
[4] Sulco, n. 487
[5] cf. a nossa Novena do Trabalho, em www.padrefaus.org/novenas
[6] É Cristo que passa, n. 48

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