"A veste branca"



Jesus é arrastado, pela manhã, de Pilatos a Herodes: em que estado! A última parte da
noite foi tão dolorosa! Aquela sala baixa de onde saímos, aquela coluna, venerada ainda
hoje em Jerusalém, onde Ele se assentara, aquela oliveira do pátio de Caifás a que teria
estado preso enquanto os soldados cobravam alento para a obra bebendo, outras tantas
testemunhas daquela espantosa agonia!
Passa Ele pois pelas ruas, com as vestes sujas, o rosto inchado de bofetadas, a barba
esquálida, embaraçada e cheia de escarros, sempre atado. Quando O vêem passar,
desviam a cabeça... ousaremos dizê-lo? Depois do que disse o profeta, sim: é uma Face
nojenta. Não está bastante ensangüentada para excitar a compaixão; está suja demais,
por demais desfeita, para não suscitar o nojo.
Ó meu Deus, perdão por este termo repugnante, mas é o verdadeiro, nada se deve mudar
ao que disse o Espírito Santo.
Tem Ele os braços amarrados, o rubor da confusão cobre-Lhe os pontos do rosto que
não sujam os escarros e a poeira: não pode nem enxugar a Face nem esconder o pranto
que corre.
Jesus deve ter chorado muitas vezes na Sua Paixão.
Ei-lO em presença de Herodes, de pé, pálido e desfeito; um arrepio de nojo percorre a
elegante assembléia. Não podiam tê-lO modificado? Quando menos lavá-lO?
Atormentam-nO com perguntas; lisonjeiam-nO, gabam-nO; Ele se cala; desatam-Lhe as
mãos para que execute passes. Jesus se cala, pendem-Lhe imóveis os braços. Instam
então com Ele, a impaciência reponta:
“O quê?! Eu antecipei o meu levantar, atrapalhei o meu dia, convoquei a minha corte,
pra Te ver, pra Te ouvir!”
E Jesus se cala. – “Que doido estúpido é este, ignorante das conveniências e usanças do
mundo, que Pilatos me despachou?”
– “É vosso rival, Herodes, intitula-se Rei dos judeus”.
– “Belo Rei na verdade! Vamos vesti-lO de Rei, preciso tirar o meu proveito; prometi
um divertimento à minha corte: já que Ele não nos quer divertir, divertir-nos-emos nós a
custa dEle”.
Trazem a veste branca, passam-Lha, menosprezam-nO. E Jesus mantêm-se firme, face a
Herodes, e despreza nEle o mundo.
Eis porque se cala.


Padre Luís Perroy. S. J.
Editora Vozes
1957
IMPRIMATUR
Por comissão especial do Exmo. e Revmo. Sr. Dom Manuel Pedro da Cunha Cintra,
Bispo de Petrópolis, Frei Desidério Kalver-Kamp, O.F.M Petrópolis, 19-11-1957


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"ORAÇÃO DA SANTA CRUZ DE JESUS CRISTO"

ORAÇÃO - Maria Valei-me

Oração contra todo mal – por um dos maiores exorcistas do mundo