O mundo em que os jovens vivem!



Vivemos um tempo de transformação. Há a crise econômica e social. Há a crise eclesial. Há a crise cultural. Morre um mundo e nasce outro. Morre um modo de viver a fé. O que é ser cristão nesse mundo novo vago que se delineia a duras penas. Ora, os jovens são aqueles que poderão ser protagonistas desse novo nascimento. Poucas de nossas comunidades, no entanto, conseguem organizar e alimentar uma pastoral juvenil. Em que mundo vivemos nós e os jovens?

Vivemos o tempo do imediato, do que precisa ser feito aqui e agora, sem delongas, sem demora. O que desejo, quero para já, aqui e agora. Nem sempre esse desejo do imediato é acompanhado pela reflexão. Não sabemos colocar o pé no freio. Compramos o que temos vontade de comprar e pagamos a crédito, com cartão de crédito, com pagamentos a perder de vista. Mas queremos agora. Essa característica da busca do imediato lembra os caprichos de uma criança que pensa que tudo se lhe deve e que esperneia enquanto não consegue o que quer na rua, no metrô, na igreja e na sala de espera do consultório médico. As pessoas querem tudo rapidamente e não se dão o tempo de pensar, de escolher, de decidir com um mínimo de discernimento. O tempo da juventude não seria o tempo de escolhas importantes que marcam a vida de uma pessoa para sempre? Será possível melhorar nossas escolhas?
A realidade é como um líquido que escorre por entre os dedos. Nada passa a impressão de ser sólido. Os relacionamentos são fugazes: casamento, amigos, convicções. Como uma pessoa jovem se situa nesse mundo líquido de que fala Zygmund Bauman? Onde o jovem encontrará uma âncora vital que o ajude a navegar no vaivém das oscilações da vida? O mundo nunca foi estático. Mas hoje é “louco”. É possível encontrar um sentido último para a vida e que oriente as decisões e ajude a construir projetos existenciais que valham a pena?

Vivemos num mundo descosturado. As coisas não estão interligadas. Cada fragmento tem sua lógica, obedece a seus princípios, contém seus “valores”, uns separados dos outros. Jovens vivem essa descostura na carne. Muitos deles trabalham para ajudar na renda familiar, fazem estudos à noite, ou ensino fundamental, ou faculdade. Não têm tempo de aprofundar seus estudos e nem de conhecer-se a si mesmos. Derramam-se nas coisas e nos finais de semana precisam uma válvula de escape: namoricos, por vezes para distração, bebida e certas fugas no mundo das drogas. Precipitados envolvimentos amorosos podem redundar numa gravidez. Como esses jovens tão ocupados poderão participar de grupos de jovens, de espaços de iniciação cristã e de reorganização de seu universo? Como viver com eles? Como eles poderão sentir beleza da fé vivida por outros?

Há jovens de todos os tipos e horizontes. Vemos uma certa juventude que cresce em ambientes familiares de compreensão, de harmonia. Crianças que encontram regularmente os pais, que sentem a firmeza do relacionamento dos mesmos, que vivem segurança na vida, apoiadas no sólido amor dos pais. De outro lado vemos jovens que vivem em ambientes de profunda hostilidade familiar. São filhos de mães solteiras, criados pelas avós. Jovens que têm conviver com “meio-irmãos”, filhos do novo companheiro da mãe. A mãe e seu novo companheiro não vão viver o tempo todo juntos. É coisa apenas por um tempo. O que realmente se passa na cabeça desses jovens? Onde estão? Como fazer pastoral com eles? Quando tentar atingi-los com o Evangelho?

Nossos jovens crescem num ambiente marcadamente consumista. O mundo é consumista. A vida é consumista. Os meios de comunicação falam de consumo, convidam ao consumo. Consumo de bens, consumo de coisas modernas, de viagens, de pessoas. Como fazer com que ressoe nesta sociedade de consumo o espírito de desprendimento do Sermão das Bem-aventuranças?

Vivemos a cultura do êxito. É preciso vencer na vida. Há a competição. Competição que estressa. Competição que aponta para uma certa eliminação do outro. Há famílias que treinam os filhos para estudar, vencer na vida e assim poderem desfrutar de folgada situação financeira em suas vidas. Êxito e sucesso também nos relacionamentos amorosos: corpos sarados, bem cuidados, cuidados demais. Meninas magras e rapazes “bonitos”. Culto das aparências: beleza do corpo, viagens, carros e facilidades.

“Construimo-nos como pessoas em relação com os outros. O jovem de hoje, como nunca antes, vive possibilidades de comunicação e de relacionamentos quase ilimitadas. Que jovem não se serve das redes sociais com centenas de amigos nesses fóruns? Os jovens de hoje conhecem melhor o mundo do que aqueles de gerações anteriores. Também se deslocam e se locomovem muito mais. Com tudo isso, a solidão parece ser uma ameaça real para não poucos jovens. Nem sempre conseguem viver uma amizade em profundidade. Vínculos que pareciam muito estáveis se desfazem com relativa facilidade. Há jovens que chegam aos trinta anos numa dificuldade de encontrar seu par com quem construir sua vida. Pode o evangelho ajudar a viver vinculações mais sólidas, mais estáveis, de pessoas mais comprometidas umas com as outras?”
 
 (Abel Toraño Fernández, SJ, Jóvenes e nueva evangelización: escenario y desafios, Sal Terrae, 100 (2012), p. 529-530).

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